São Paulo, sexta-feira, 17 de maio de 2002

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TRANSPORTE

Rede elétrica sucateada tem quebras frequentes, mas Eletropaulo só pretende trocar fiação se a prefeitura pagar

Trólebus paralisa trânsito 30 vezes por dia

Ormuzd Alves/Folha Imagem
Trólebus quebrado no centro de São Paulo; diariamente mais de 30 quebras são registradas no sistema por falha de manutenção


PALOMA COTES
DA REPORTAGEM LOCAL

Sem manutenção preventiva há quatro anos, o sistema paulistano de trólebus, que transporta cerca de 154 mil pessoas por dia, enfrenta uma média de 30 quebras a cada 24 horas. Isso acarreta um enorme problema ao trânsito da cidade, principalmente nos corredores Santo Amaro, Celso Garcia, Mateo Bei e Conselheiro Carrão, vias onde circula 70% da frota de trólebus.
Uma queda de rede na ponte Cidade Jardim, na última quinta-feira, causou um congestionamento de 18 quilômetros e problemas de tráfego na Marginal Pinheiros e nas avenidas Nove de Julho e Bandeirantes, segundo a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego). Como na maioria dos casos, o conserto demorou cerca de três horas e irritou os motoristas.
As falhas são decorrência de um impasse entre a SPTrans, responsável pelo transporte coletivo, e a Eletropaulo, de quem seria a responsabilidade pelo serviço de manutenção do sistema.
Atualmente, a rede de fios do sistema só recebe ajustes emergenciais, ou seja, a manutenção só é feita quando há uma falha ou quebra. Especialistas afirmam que isso transformou a rede em uma "colcha de retalhos".
Com uma frota de 475 veículos -o que representa 4,6% do transporte público da cidade-, o sistema é elogiado por urbanistas. A implantação em larga escala, dizem especialistas, poderia melhorar o ar da cidade.

Impasse
O problema se arrasta desde 1998, ano da privatização da Eletropaulo. Desde o início das operações de trólebus na cidade, há 53 anos, a responsabilidade pelo fornecimento de energia aos veículos e pela manutenção preventiva e emergencial ficavam a cargo das companhias energéticas, que pertenciam ao Estado.
Depois que se tornou uma empresa privada, a Eletropaulo não trocou mais fios ou fez reposições na rede. A alegação é que não interessa à empresa prestar um serviço pelo qual não recebe.
Atualmente, um acordo entre a administração da prefeita Marta Suplicy (PT) e a Eletropaulo prevê que a prefeitura pague pela energia que os veículos consomem.
Pela conta de energia, a prefeitura paga mensalmente cerca de R$ 900 mil. Mas o município não paga pela manutenção das linhas, o que, segundo Antoninho Borghi, vice-presidente da Eletropaulo, justifica o desinteresse em prevenir as falhas do sistema.
"Esse sistema de trólebus só dá prejuízo. Para fazer uma manutenção preventiva, seria necessário trocar as fiações. Mas só faremos isso se alguém pagar."
O único serviço que a companhia energética presta é o de manutenção emergencial das linhas. Isso significa que a Eletropaulo somente entra em ação quando as linhas de trólebus apresentam alguma falha.
A Eletropaulo afirma que gastou, em 2001, R$ 18 milhões com a operação e manutenção de trólebus, dinheiro tirado do caixa da companhia.
O diretor-presidente da SPTrans, Carlos Alberto Tavares Carmona, afirma que, do ponto de vista da prefeitura, quem deveria se responsabilizar pela manutenção preventiva da rede é a própria Eletropaulo.
"Eu comparo essa situação à de uma casa. Se você paga a sua conta de luz e tem um problema na fiação externa, de quem é a responsabilidade? Da Eletropaulo. Logo, a prefeitura paga a conta de energia, e a companhia deveria oferecer toda a manutenção."
Diante do impasse, a SPTrans enviou, em 29 de abril, uma carta para a Comissão de Serviços Públicos de Energia (CSPE) -órgão ligado à Secretaria Estadual de Recursos Hídricos e Energia-, para saber de quem é a responsabilidade pela manutenção do sistema que alimenta os trólebus.

Santos
Única cidade, além de São Paulo, a operar com o sistema de trólebus no Brasil, Santos (85 km da capital) tem apenas uma linha, mas é ela que faz a ligação entre os principais bairros da cidade e, por este motivo, é uma das mais usadas pela população.
Diferente de São Paulo, em Santos é a própria viação que opera os trólebus a responsável pelo pagamento do consumo de energia e pela manutenção da rede elétrica. As contas são pagas para a concessionária energética local, a CPFL (Companhia Paulista de Força e Luz).



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