São Paulo, domingo, 17 de maio de 1998

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VIOLÊNCIA
Pesquisa mostra que 7,5% dos homens negros foram vítimas de homicídio contra 2,8% dos brancos
Arma de fogo mata mais negros em SP

RODRIGO VERGARA
da Reportagem Local

A desigualdade nas condições de vida entre negros e brancos na cidade de São Paulo acompanha a população negra até a hora da morte, revela pesquisa inédita feita na Universidade de São Paulo. Realizado com base em declarações de óbito registradas na cidade em 1995, o estudo mostra que os homicídios por arma de fogo são a principal causa de morte entre negros. Morreram dessa forma 7,5% dos negros estudados, contra 2,8% dos brancos -entre estes, essa foi a quinta causa de morte. Além de vir de forma mais violenta, a morte entre os negros chega mais cedo, revela ainda a pesquisa. Entre os óbitos pesquisados, 66,3% dos brancos morreram com 50 anos ou mais, índice 22,5 pontos percentuais maior que a taxa entre negros, de 43,8%. Tal situação é fruto de outra distorção: 41,7% dos negros morreram entre 20 e 49 anos, contra 22,8% dos brancos. "A leitura que eu faço desses números é de racismo", diz Maria Inês da Silva Barbosa, autora do estudo. Maria Inês é negra, professora da UFMT (Universidade Federal do Mato Grosso) e cursa doutorado pela USP. A pesquisadora compara os números de São Paulo aos de Johannesburgo, na África do Sul. Em 1988, em pleno apartheid, as causas externas -que incluem homicídios e acidentes- predominavam entre os negros, com 41%, mas entre os brancos eram o terceiro grupo de causas de morte, com 14,8%. Em São Paulo, as causas externas são o segundo grupo de causas de morte entre os negros (23,4%) e ocupam o quarto lugar entre brancos (11,4%). "Nossos números são menores, mas estamos comparando uma sociedade oficialmente racista e outra que nega o preconceito." Na opinião da autora, o estudo revela "mais uma face perversa das más condições de vida a que está submetida a população negra". "Miséria gera violência, e a população negra está concentrada nos locais mais pobres." Mas mesmo entre os mais pobres a violência atinge mais os negros. Segundo o estudo, entre as pessoas com menor grau de escolaridade (até 1º grau completo) as causas externas ainda têm maior incidência entre negros. Nesse grupo, 33,9% dos negros morreram por causas externas, contra 14,9% entre brancos. "O racismo está disseminado. Quando você pega por grau de escolaridade, que teoricamente daria as mesmas condições de acesso ao trabalho e condições de moradia, percebe que a diferença na exposição à violência se mantém." Os negros são os mais expostos à violência na capital paulista. Nesse grupo, as causas externas respondem por 32,3% das mortes, ou seja, quase um em cada três homens negros morreu por homicídio, suicídio ou acidente. Essa incidência cai pela metade entre os brancos. Nesse grupo, 16,2% morreram por causas externas, e as doenças do aparelho circulatório prevalecem.


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