|
Próximo Texto | Índice
VIOLÊNCIA
Pesquisa mostra que 7,5% dos homens negros foram vítimas de homicídio contra 2,8% dos brancos
Arma de fogo mata mais negros em SP
RODRIGO VERGARA
da Reportagem Local
A desigualdade nas condições de
vida entre negros e brancos na cidade de São Paulo acompanha a
população negra até a hora da
morte, revela pesquisa inédita feita na Universidade de São Paulo.
Realizado com base em declarações de óbito registradas na cidade
em 1995, o estudo mostra que os
homicídios por arma de fogo são a
principal causa de morte entre negros. Morreram dessa forma 7,5%
dos negros estudados, contra
2,8% dos brancos -entre estes,
essa foi a quinta causa de morte.
Além de vir de forma mais violenta, a morte entre os negros chega mais cedo, revela ainda a pesquisa. Entre os óbitos pesquisados, 66,3% dos brancos morreram
com 50 anos ou mais, índice 22,5
pontos percentuais maior que a
taxa entre negros, de 43,8%.
Tal situação é fruto de outra distorção: 41,7% dos negros morreram entre 20 e 49 anos, contra
22,8% dos brancos.
"A leitura que eu faço desses
números é de racismo", diz Maria
Inês da Silva Barbosa, autora do
estudo. Maria Inês é negra, professora da UFMT (Universidade Federal do Mato Grosso) e cursa
doutorado pela USP.
A pesquisadora compara os números de São Paulo aos de Johannesburgo, na África do Sul.
Em 1988, em pleno apartheid, as
causas externas -que incluem
homicídios e acidentes- predominavam entre os negros, com
41%, mas entre os brancos eram o
terceiro grupo de causas de morte,
com 14,8%. Em São Paulo, as causas externas são o segundo grupo
de causas de morte entre os negros
(23,4%) e ocupam o quarto lugar
entre brancos (11,4%).
"Nossos números são menores,
mas estamos comparando uma
sociedade oficialmente racista e
outra que nega o preconceito."
Na opinião da autora, o estudo
revela "mais uma face perversa
das más condições de vida a que
está submetida a população negra". "Miséria gera violência, e a
população negra está concentrada
nos locais mais pobres."
Mas mesmo entre os mais pobres a violência atinge mais os negros. Segundo o estudo, entre as
pessoas com menor grau de escolaridade (até 1º grau completo) as
causas externas ainda têm maior
incidência entre negros. Nesse
grupo, 33,9% dos negros morreram por causas externas, contra
14,9% entre brancos.
"O racismo está disseminado.
Quando você pega por grau de escolaridade, que teoricamente daria as mesmas condições de acesso
ao trabalho e condições de moradia, percebe que a diferença na exposição à violência se mantém."
Os negros são os mais expostos à
violência na capital paulista. Nesse
grupo, as causas externas respondem por 32,3% das mortes, ou seja, quase um em cada três homens
negros morreu por homicídio,
suicídio ou acidente.
Essa incidência cai pela metade
entre os brancos. Nesse grupo,
16,2% morreram por causas externas, e as doenças do aparelho circulatório prevalecem.
Próximo Texto | Índice
|