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Pai de assassino é morto por vingança
da Reportagem Local
Não é preciso procurar muito,
na periferia de São Paulo, para encontrar casos de negros que tenham sido vítimas fatais de algum
tipo de violência. Em uma rua da
Vila Brasilândia, noroeste da cidade, bastaram algumas perguntas a
pedestres para encontrar, em menos de uma hora, Elisângela Oliveira de Aguiar, 18, órfã de pai.
O assassinato do pai de Elisângela, ocorrido há oito meses, não teve nenhuma motivação racista,
mas ilustra o cotidiano violento
onde vive a maior parte da população negra.
O desentendimento que acabou
com sua vida, aos 44 anos, começou em um campo de futebol, entre seu filho P., que hoje tem 17
anos, e um colega.
Os dois discutiram por causa de
uma jogada e P. acabou matando o
colega, que tinha disparado dois
tiros, sem atingi-lo.
À noite, quando um grupo de
homens armados bateu à porta da
casa de P., o rapaz não estava. Seu
pai foi morto quando abriu a porta. Sua mãe, baleada, sobreviveu.
Atendida no hospital público local, teve o intestino perfurado por
um dreno, enfrentou uma infecção generalizada e ainda tem sequelas. P. acabou preso e hoje
cumpre pena na Febem. Elisângela
tinha acabado de ter um filho, Kaíke, hoje com 8 meses. O pai, casado, não assumiu a criança.
Elisângela não conhece muito
bem sua ascendência, e não sabe
dizer quais antepassados seus foram escravos, há cem anos. Mas já
conheceu a discriminação.
"Vi um anúncio de emprego em
uma loja. Quando entrei, a funcionária nem perguntou se eu tinha
estudo, nem nada, e disse que a
vaga já tinha sido preenchida. Eu
ia saindo quando chegou uma
mocinha branca. Fiquei ali para
ver e ela ganhou a vaga."
Apesar dos 18 anos, Elisângela só
estudou até a 6ª série. Desempregada, não vê futuro para seu filho.
"Quero que estude. Além de ser
preto, se não tem estudo, não vale
nada."
Ao seu lado, no dia da entrevista,
estava A.L., 16, que fazia uma visita. O rapaz, também negro, conheceu o irmão de Elisângela na
Febem, onde foi parar por um
roubo e de onde fugiu há alguns
meses. Sem documentos, ele não
pode trabalhar. "Vivo de ajuda,
mas não roubo mais."
(RV)
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