São Paulo, domingo, 17 de maio de 1998

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VIOLÊNCIA 3
Pesquisadores avaliam morte precoce de negros
Exclusão social é causa de problema

da Reportagem Local

Pesquisadores e militantes de movimentos negros são unânimes na interpretação dos dados que mostram a prevalência de mortes violentas entre negros: os negros morrem mais cedo e de forma mais violenta, porque ainda são excluídos socialmente.
"A resolução de conflitos por meio da violência vai se concentrar onde há alto índice de desemprego, salários mais baixos e baixo grau de escolaridade", diz Hédio Silva Júnior, 36, advogado criminalista e um dos coordenadores do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdade. "E são nesses estratos que os negros estão concentrados."
Silva Júnior afirma, porém, que a explicação social não explica a desigualdade.
"Os negros ocupam sempre o degrau mais baixo, mesmo entre a população pobre. Na indústria da construção civil, onde os índices de acidentes são os mais altos, há prevalência de negros. Ou em qualquer ocupação insalubre."
Para a pesquisadora Sueli Carneiro, do SOS Racismo, a incidência de mortes violentas entre a população negra pode ser caracterizada como um "genocídio".
"Evoluindo o que a pesquisa demonstra, nós, os negros, estamos correndo risco de extinção. A expectativa de vida no Brasil, para a população branca, é de 65 anos. Entre negros, é de 59 anos. Se não houver intervenção política, estaremos assistindo passivamente a um extermínio", diz ela.
A falta de políticas públicas também é apontada por Antonio Carlos Arruda, 46, presidente do Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra.
"Nós, os negros, somos vítimas preferenciais da falta de atenção dos poderes públicos para os problemas da população com saúde, educação e trabalho. Como há mais negros dependendo dos serviços públicos, eles são mais afetados pela sua má qualidade."
A falta de educação e de acesso ao emprego, segundo Arruda, acaba por reproduzir um círculo vicioso. Para ele, com a escassez de recursos, as gerações seguintes ainda terão mais dificuldade no acesso à educação e ao emprego bem remunerado. (RV)



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