São Paulo, domingo, 17 de maio de 1998

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SAÚDE
Poluição sobe e asmáticos entram em crise

JAIRO BOUER
especial para a Folha

A piora nos índices de poluição atmosférica em São Paulo, como aconteceu no início da semana passada, deve levar muita gente com crise de asma aos prontos-socorros da capital durante os meses do outono e do inverno.
Na segunda passada, apesar do rodízio estadual dos veículos, duas estações de medição da qualidade do ar registraram o índice "inadequado".
O período de maio a julho é o recordista em casos de pessoas com problemas respiratórios na cidade. A chegada dos meses mais frios do ano, o maior número de gripes e resfriados, as oscilações mais bruscas de temperatura ao longo do dia e a piora nos níveis de poluição atmosférica são fatores com "culpa no cartório".
Os poluentes não são, diretamente, agentes que desencadeiam uma crise respiratória alérgica (rinite ou asma). No entanto, segundo Charles Naspitz, professor titular de alergia e imunologia do departamento de pediatria da Unifesp, eles são irritantes da mucosa (revestimento interno) do sistema respiratório.
Ao causar uma irritação na mucosa, os poluentes acabam intensificando um processo inflamatório. Todo tecido inflamado fica mais irrigado por sangue e mais "vulnerável" à entrada de alérgenos (ácaros e bolores) e de microorganismos (vírus e bactérias).
Essa situação favorece a instalação de uma crise de asma ou mesmo de um quadro gripal. Naspitz lembra que as próprias gripes e resfriados também podem disparar uma crise alérgica.
Ana Maria de Ulhôa Escobar, pediatra e chefe dos prontos-socorros do Hospital Santa Catarina e do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da USP diz que houve uma verdadeira explosão de crianças com problemas respiratórios no começo dessa semana.
"Saí do consultório quase todos os dias às 22h. Nos prontos-socorros do Einstein, Santa Catarina e Instituto da Criança, o movimento cresceu quase 40%."
Ana acredita que o aumento da poluição tem um papel relevante nesse panorama. "As mudanças de temperatura também têm seu peso, mas os poluentes acabam quebrando a barreira de defesa do sistema respiratório, facilitando quadros alérgicos (tosse, rinite, asma) e gripes", diz.
Os especialistas concordam que, do ponto de vista médico, não há muito o que fazer, nesse momento, para combater os efeitos que a poluição atmosférica de São Paulo provoca sobre as crianças.
Tanto Ana Escobar como Charles Naspitz concordam que uma escapada da cidade nos finais de semana podar uma ajuda para os alérgicos.



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