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VIOLÊNCIA
Estatísticas da Ouvidoria apontam que houve mais de três mortes por dia no mês; para ouvidor, "números falam por si"
PM mata 101 pessoas em maio e bate recorde
DA REPORTAGEM LOCAL
Policiais militares mataram 101
pessoas em maio deste ano no Estado de São Paulo -mais de três
por dia-, um recorde mensal nas
estatísticas da Ouvidoria das Polícias pelo menos desde 1998. De janeiro a maio de 2003, foram 435
mortes, 51% a mais do que no
mesmo período do ano passado.
O crescimento do número de
mortes de civis por PMs já tinha
sido identificado nos dados da
Ouvidoria de janeiro a março de
2003, quando o índice ficou 35,8%
maior do que no primeiro trimestre de 2002. As estatísticas de
maio, mês em que a Anistia Internacional divulgou relatório anual
denunciando justamente a violência policial no Brasil e em São
Paulo, são o principal responsável
pelo aumento desse índice.
Enquanto a PM matou 101 pessoas -o recorde mensal anterior
é de janeiro deste ano, com 95
mortes-, a Polícia Civil foi responsável por seis mortes. Em
maio, seis PMs foram mortos, sete
a menos do que no mesmo mês
do ano passado.
De janeiro a maio deste ano, foram mortos 43 PMs, um a menos
do que no mesmo período de
2002. "Os números falam por si
mesmos. Qualquer adjetivo pode
alarmar ainda mais a população",
afirmou o novo ouvidor das polícias, Itajiba Farias Ferreira Cravo.
Ele assumiu o cargo na semana
passada, em meio a polêmicas entre o ex-ouvidor Fermino Fecchio
e o secretário da Segurança Pública, Saulo de Castro Abreu Filho. O
aumento da morte de civis -o
qual Fecchio atribuía como resultado de uma "política de matança"- era uma dessas polêmicas.
As estatísticas da Ouvidoria levam em consideração os casos registrados como "resistência seguida de morte", homicídio doloso e homicídio culposo (sem intenção). Tanto nas mortes de civis
quanto nas de PMs, a Ouvidoria
contabilizou ocorrências com policiais em serviço ou não.
A pesquisa da Secretaria da Segurança Pública, que também registra aumento da morte de civis,
só leva em consideração os casos
com PMs em serviço. Segundo a
Ouvidoria, os PMs têm de ser avaliados fora do serviço também,
principalmente nos casos de bicos
-a maior parte dos policiais
morre quando não está fardado.
A inclusão de homicídios culposos é feita porque, na maioria dos
casos, o registro é de disparo acidental de arma, situação considerada suspeita pela Ouvidoria.
"Só existe esse aumento quando
há uma visão política, uma linha
do Estado que autoriza isso", afirmou Tim Cahill, pesquisador da
Anistia para o Brasil.
Cahill citou o caso do fim de
uma norma em São Paulo, no ano
passado, que previa o afastamento preventivo, para avaliação psicológica, do PM que se envolvesse
em uma operação com morte.
"Tirou-se uma norma e não se
criou outra. Não há mecanismos
de controle para esses casos", afirmou o pesquisador.
O corregedor da PM, coronel
Paulo Máximo, confirmou ontem
que "houve um ligeiro acréscimo" nas mortes de civis. "Mas é
um fato explicável", disse. Segundo ele, houve um aumento do número de confrontos entre PMs e
criminosos. A permanência do
número de mortes de PMs, em
contrapartida com o de civis, é explicada por ele como resultado do
melhor preparo dos PMs.
Para Máximo, o afastamento
sumário foi interpretado como
um castigo. Hoje, segundo ele, o
PM que se envolver em uma ação
com morte será avaliado por uma
equipe de psicólogos da instituição, que definirá o afastamento
ou não.
(GILMAR PENTEADO)
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