São Paulo, Quinta-feira, 17 de Junho de 1999
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INFÂNCIA
Segundo pesquisa do Unicef, 30% delas estão fora da escola e recebem entre R$ 1 e R$ 6 por dia de trabalho
50 mil crianças vivem em lixões no Brasil

Lucio Piton/Folha Imagem
Hugo, 3, e Fabrício, 4, que ajudam os pais a catar lixo em Ribeirão Preto, São Paulo


DANIELA FALCÃO
da Sucursal de Brasília



O Brasil tem hoje pelo menos 50 mil crianças e adolescentes que vivem e trabalham em depósitos de lixo a céu aberto -os lixões.
Segundo pesquisa do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), 30% deles estão fora da escola e recebem entre R$ 1 e R$ 6 por dia comercializando o lixo, que também é a principal fonte de alimentação dessas crianças.
Para combater o problema, o Unicef, o Ministério do Meio Ambiente e a Secretaria de Desenvolvimento Urbano lançaram ontem a campanha "Criança no Lixo Nunca Mais", que pretende tirar dos lixões, até 2002, todos os 50 mil crianças e adolescentes.
De imediato, a campanha espera trazer para a escola os 15 mil moradores dos lixões com menos de 18 anos que estão sem estudar. Os adolescentes, além de matriculados em programas supletivos, serão incluídos em programas profissionalizantes.
"A situação das crianças que vivem nos lixões é dramática e inaceitável. Elas não têm acesso à escola nem à água limpa e estão mais sujeitas a sofrer doenças respiratórias e de pele", diz Reiko Nimi, representante do Unicef no Brasil.
Segundo Nimi, os adolescentes que vivem nos lixões também apresentam altos índices de alcoolismo e gravidez precoce.
Os projetos para tirar as crianças do lixo serão desenvolvidos por 5.507 prefeituras de todo o país, com apoio dos organizadores da campanha.
Os prefeitos que se interessarem receberão material mais detalhado com relatos de experiências bem-sucedidas das prefeituras de Olinda e Petrolina (PE), Manaus (AM), Rio Branco (AC) e Palmeira dos Índios (AL).
Além de tirar crianças e adolescentes dos lixões, a campanha também pretende envolver os pais que trabalham como catadores de lixo. O objetivo é capacitá-los profissionalmente, incentivando a formação de cooperativas para que aumentem a renda familiar.
Segundo o Unicef, em 88% das cidades brasileiras o lixo é despejado em locais abertos, que viram moradia e fonte de renda de famílias de baixa renda.
O ideal é que o lixo seja despejado em aterros sanitários ou controlados, com acesso restrito para a população. Entretanto, apenas 11,7% do lixo produzido no Brasil tem esse destino.
Outro problema é o grande número de municípios que não fazem coleta domiciliar. No Brasil, 46 milhões de pessoas vivem em lugares onde o lixo não é recolhido pelas prefeituras, incentivando a formação de lixões.
A situação é mais grave no Nordeste. Enquanto no Brasil 28% dos domicílios não têm coleta de lixo, no Nordeste a proporção sobe para 49,8%.


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