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AMBIENTE
Protesto forçou fim da última audiência pública
Novo aterro na zona norte já tem oposição de sem-terra e morador
MARIANA VIVEIROS
DA REPORTAGEM LOCAL
Quem ganhar a concorrência
para cuidar do lixo no setor noroeste da capital paulista vai enfrentar um desafio extra: a resistência de integrantes do MST
(Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra) e de representantes da comunidade local à instalação, em Anhanguera (extremo norte de SP), de um aterro sanitário -item obrigatório do
contrato de concessão.
Ontem um protesto de 25 sem-terra e do movimento "Lixão,
Mais Um Não", de Perus, forçou o
fim da última audiência pública
da licitação. "Já esperávamos [o
protesto], mas a verdade é que
não temos outra opção de área
para a construção de aterros no
setor noroeste. Temos ainda três
anos para discutir e negociar. Espero que possamos convencer as
pessoas do ganho que essa obra
vai trazer", disse o secretário de
Serviços e Obras, Osvaldo Misso.
A área indicada para o novo
aterro, que deve ser implantado
em 2007, fica ao lado de um terreno da Sabesp, invadido há pouco
mais de um ano pelos sem-terra e
onde moram 800 famílias.
Apesar de não haver necessidade de desocupação do local, os
sem-terra alegam que não vão viver e trabalhar perto de um "lixão
que vai poluir o ambiente e inviabilizar a produção agrícola", afirma Naveen Manikkompel, da direção estadual do movimento.
Hoje, no local, há chácaras que
seriam desapropriadas. O equipamento não deve, porém, causar
impacto ao ambiente nem tornar
impossível o uso produtivo do solo vizinho, já que tem a obrigação
de tratar os subprodutos da degradação do lixo (gases e líquidos) e de ser implantado sobre
uma manta impermeável que
proteja as águas subterrâneas.
Sobra o mau cheiro: o do aterro
Bandeirantes, instalado na região
desde 1979, às vezes pode ser sentido da rodovia Anhanguera.
Antes do MST, a luta da comunidade de Perus contra um novo
"lixão" já havia causado tumulto e
interdição de vias quando, em
2001, cogitou-se instalar um aterro no distrito. "Queremos que Perus deixe de ser conhecido por lixo e cemitério clandestino", diz
Paulo Rodrigues, fundador do
"Lixão, Mais Um Não".
Além do aterro em Anhanguera, a concessão prevê um outro
em Iguatemi -ao lado de onde é
hoje o aterro São João- para
atender o setor sudeste da cidade.
Edital
A Abrelpe (associação que reúne cerca de 40 empresas de limpeza pública do país, entre elas a Vega e Qualix, ex-Enterpa) se disse
satisfeita com o edital.
O único senão de Eduardo Castagnari, presidente da entidade, é
a margem de risco do contrato,
que considerou alta. Pelas normas
da concorrência, a tarifa paga pelos serviços é fixa e só pode ser
reajustada, para mais ou para menos, se houver aumento ou diminuição de mais de 10% na quantidade de lixo coletado. Como a
meta da prefeitura é justamente
reduzir significativamente esse
volume, as empresas temem sair
perdendo a médio e longo prazo.
"Vamos avaliar a possibilidade
de sugerir a alteração desse ponto", afirmou Castagnari. Ele avalia
que será difícil uma empresa sozinha concorrer a um dos lotes da
concessão e apostou na formação
de consórcios. A concessão prevê
que duas empresas ou consórcios
de até três empresas cada um administrem toda a coleta e destinação final de resíduos da cidade pelas próximas duas décadas. O valor total do contrato é de R$ 8,8 bilhões (R$ 440 milhões por ano).
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