São Paulo, sexta, 17 de julho de 1998

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EDUCAÇÃO
País apresenta alta média de escolaridade em poucos lares ricos e baixa em grande número de lares pobres
Pobre do Brasil vai menos à escola, diz BID

DANIELA FALCÃO
da Sucursal de Brasília

Os brasileiros que estão entre os 40% mais pobres do país frequentam menos anos de escola do que a mesma parcela da população de países como Zimbábue, Quênia, Gana, Tanzânia e Egito.
A conclusão é de relatório inédito apresentado ontem em Brasília pela vice-presidente do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), Nancy Birdsall.
Segundo o relatório, apenas 46% dos mais pobres chegam à 5ª série do 1º grau no país, contra 54% dos mais pobres da Zâmbia, 62% dos da Tanzânia e 69% dos de Gana.
Os 40% mais pobres do Brasil também têm menos escolaridade do que os mais pobres de Bolívia, Colômbia, Peru, República Dominicana, Indonésia e Filipinas (veja quadro nesta página).
"A performance da América Latina e do Brasil em educação tem sido muito fraca. Os registros no Brasil refletem, ao longo das últimas três décadas, uma média de altos níveis de escolaridade dentro de uma minoria de lares ricos e de baixos níveis em grande número de lares pobres", disse Birdsall.
O fraco desempenho da América Latina, além de exacerbar as desigualdades na distribuição de renda, está comprometendo o crescimento econômico da região.
O Relatório de Progresso Econômico e Social de 1997, do BID, aponta o atraso na educação como o maior obstáculo para o futuro crescimento da América Latina.
"Se a força de trabalho dos países latino-americanos tivesse um ano a mais de escolaridade do que tem hoje, durante a próxima década, a média ponderada de ganhos de crescimento anual da região poderia aumentar 1,5 ponto percentual", disse Birdsall.
Os dados apresentados ontem surpreendem por três motivos:
1) porque o PIB per capita do Brasil é, em média, três vezes maior do que o dos africanos;
2) porque o Brasil investe maior porcentagem do PIB em educação do que esses países e
3) porque, se tomada a escolaridade da população como um todo, o Brasil também está em melhor posição do que os africanos.
Para Birdsall, a chave do mistério está no fato de os investimentos em educação no Brasil serem canalizados para atender às necessidades das camadas de renda mais elevadas da população -que também se repete em outros países como Paraguai, Argentina, El Salvador e México (leia texto).
"O gasto público com educação na América Latina é de cerca de 4,5% do PIB, acima da média de 3,9% das demais regiões em desenvolvimento. Logo, o problema não é de falta de investimentos."
O problema, segundo Nancy Birdsall, "é o uso ineficiente das verbas públicas pela rede escolar que serve à população mais pobre, exacerbado pela baixa proporção do investimento destinado ao ensino básico".
Em 1995, 69% do investimento federal em educação foi destinado ao ensino superior, 22% ao ensino médio e apenas 8% ao ensino básico. Já os gastos estaduais e municipais com educação priorizam o 1º grau: 78% e 73% respectivamente.



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