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EDUCAÇÃO
País apresenta alta média de escolaridade em poucos lares ricos e baixa em grande número de lares pobres
Pobre do Brasil vai menos à escola, diz BID
DANIELA FALCÃO
da Sucursal de Brasília
Os brasileiros que estão entre os
40% mais pobres do país frequentam menos anos de escola do que a
mesma parcela da população de
países como Zimbábue, Quênia,
Gana, Tanzânia e Egito.
A conclusão é de relatório inédito apresentado ontem em Brasília
pela vice-presidente do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), Nancy Birdsall.
Segundo o relatório, apenas 46%
dos mais pobres chegam à 5ª série
do 1º grau no país, contra 54% dos
mais pobres da Zâmbia, 62% dos
da Tanzânia e 69% dos de Gana.
Os 40% mais pobres do Brasil
também têm menos escolaridade
do que os mais pobres de Bolívia,
Colômbia, Peru, República Dominicana, Indonésia e Filipinas (veja
quadro nesta página).
"A performance da América Latina e do Brasil em educação tem
sido muito fraca. Os registros no
Brasil refletem, ao longo das últimas três décadas, uma média de
altos níveis de escolaridade dentro
de uma minoria de lares ricos e de
baixos níveis em grande número
de lares pobres", disse Birdsall.
O fraco desempenho da América
Latina, além de exacerbar as desigualdades na distribuição de renda, está comprometendo o crescimento econômico da região.
O Relatório de Progresso Econômico e Social de 1997, do BID,
aponta o atraso na educação como
o maior obstáculo para o futuro
crescimento da América Latina.
"Se a força de trabalho dos países latino-americanos tivesse um
ano a mais de escolaridade do que
tem hoje, durante a próxima década, a média ponderada de ganhos
de crescimento anual da região
poderia aumentar 1,5 ponto percentual", disse Birdsall.
Os dados apresentados ontem
surpreendem por três motivos:
1) porque o PIB per capita do
Brasil é, em média, três vezes
maior do que o dos africanos;
2) porque o Brasil investe maior
porcentagem do PIB em educação
do que esses países e
3) porque, se tomada a escolaridade da população como um todo, o Brasil também está em melhor posição do que os africanos.
Para Birdsall, a chave do mistério está no fato de os investimentos em educação no Brasil serem
canalizados para atender às necessidades das camadas de renda
mais elevadas da população -que
também se repete em outros países como Paraguai, Argentina, El
Salvador e México (leia texto).
"O gasto público com educação
na América Latina é de cerca de
4,5% do PIB, acima da média de
3,9% das demais regiões em desenvolvimento. Logo, o problema
não é de falta de investimentos."
O problema, segundo Nancy
Birdsall, "é o uso ineficiente das
verbas públicas pela rede escolar
que serve à população mais pobre,
exacerbado pela baixa proporção
do investimento destinado ao ensino básico".
Em 1995, 69% do investimento
federal em educação foi destinado
ao ensino superior, 22% ao ensino
médio e apenas 8% ao ensino básico. Já os gastos estaduais e municipais com educação priorizam o 1º
grau: 78% e 73% respectivamente.
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