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SAÚDE
Governo federal vai acabar com a exigência da permissão expressa em documentos pessoais
Só família vai poder autorizar doação de órgãos
VALÉRIA DE OLIVEIRA
FREE-LANCE PARA A FOLHA
O governo federal vai acabar
com a exigência de autorização
expressa em documentos pessoais para a retirada de órgãos e
tecidos para transplante, afirmou
ontem o ministro da Saúde, José
Serra.
Com essa mudança na autorização, os familiares é que determinarão se poderá ou não haver a
retirada de órgãos em caso de
morte cerebral.
O governo federal ainda não definiu se efetivará a modificação da
autorização por meio de projeto
de lei enviado ao Congresso Nacional ou se editará uma medida
provisória.
Atualmente, a pessoa expressa
sua condição de doadora de órgãos ao fazer ou revalidar a CNH
(Carteira Nacional de Habilitação) ou o RG (documento de
identidade).
Em 97, lei aprovada pelo Congresso Nacional introduziu o procedimento. O objetivo era facilitar
as doações de órgãos. No mesmo
ano, entretanto, uma medida provisória passou a exigir autorização da família para o procedimento.
"(A lei) não teve as vantagens da
automaticidade", avaliou Serra
ontem, no encerramento de um
seminário nacional sobre transplantes promovido pela ABTO
(Associação Brasileira de Transplante de Órgãos).
Para Serra, o método provocou
"efeito contrário". Por medo de
ter os órgãos retirados sem ter efetivamente morte cerebral, afirmou o ministro, as pessoas acabavam declarando-se não-doadoras.
A exigência da autorização na
CNH, avalia Serra, é "desnecessária" e só serve "para chatear".
O ministro lembrou que, mesmo antes de a medida provisória
exigir anuência da família, entidades médicas como a AMB (Associação Médica Brasileira) e o CFM
(Conselho Federal de Medicina)
recomendavam a retirada de órgãos somente com a concordância familiar.
O presidente da ABTO, Henry
de Holanda Campos, disse que a
medida anunciada por Serra é
"histórica". Ele acha que a família
deve ser "soberana" na decisão
sobre a doação.
A recusa familiar ainda representa, porém, o maior entrave para as doações de órgãos no país.
Segundo Campos, no Brasil, o
número de doadores é de quatro
por 1 milhão de habitantes. O volume corresponde a apenas 30%
do que seria possível (12 por 1 milhão), não fosse a determinação
da família de não permitir a retirada de órgãos.
O segundo motivo de dificuldade para a doação é a contra-indicação médica para o transplante.
Campos explicou que ela ocorre
porque o paciente não é mantido
em condições que possibilitem
efetivar a retirada de órgãos.
Outra determinação do governo anunciada ontem foi a de estabelecer a necessidade de autorização judicial para a doação entre
pessoas vivas quando elas não forem parentes.
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