São Paulo, quarta-feira, 17 de agosto de 2011

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ANÁLISE

Prefeitura tem uma relação ambígua com a arte urbana

FERNANDA MENA
EDITORA DA ILUSTRADA

A iniciativa da Prefeitura de São Paulo de colorir com arte urbana prédios da cidade revela a relação ambígua que tem com o grafite.
Até meados da década passada, grafite era sinônimo de vandalismo, tratado como caso de polícia.
Mas, nos últimos cinco anos, a valorização de expoentes brasileiros da chamada "street art" (ou arte urbana) em galerias da Europa e dos Estados Unidos fez mudar, de forma colonizada, a percepção dos paulistanos.
De sujeira, os grafites e as intervenções em muros ganharam status de arte.
Foi assim com a hoje célebre dupla Osgemeos, que grafitavam, às escondidas, os muros do bairro do Glicério, e cujas obras hoje decoram salas de estar de descolados no Brasil e no mundo.
Foram eles os primeiros a colorir uma triste empena cega no vale do Anhangabaú com uma versão gigante de um de seus personagens.
Ao mesmo tempo, tradicionais redutos de grafite na cidade, como os pilares que sustentam o Minhocão, foram pintados pela prefeitura com tinta antispray, que facilita a remoção de desenhos.
É preciso refletir se a nova medida cabe no espírito da Lei Cidade Limpa, que baniu a publicidade dos espaços públicos em 2007. Isso porque as laterais de edifícios que já ostentaram anúncios gigantes teriam a decoração patrocinada por marcas, que podem imprimir uma espécie de publicidade subliminar.
Incensado como solução estética para a paisagem urbana, o grafite fica numa encruzilhada. Deve insistir na expressão subversiva nos muros que o repelem ou deixar-se cooptar pela publicidade para conquistar, por vias oficiais e sem amolação, os grandes espaços?
Em todo caso, ao institucionalizar a arte urbana, tornando-a algo comercial e oficial, a cidade sem painéis publicitários pode se tornar a capital mundial do grafite.


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