São Paulo, Terça-feira, 17 de Agosto de 1999
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Médico pode ter que passar por avaliações periódicas

AURELIANO BIANCARELLI
da Reportagem Local

Os médicos especialistas brasileiros deverão passar por processos periódicos de revalidação de seus títulos, como é prática nos EUA e Canadá. Hoje, no Brasil, o médico que recebe um título de especialidade continua com ele pela vida toda.
A proposta de uma reavaliação vem sendo defendida por praticamente todas as 57 sociedades de especialidades do país. É também um dos temas de campanha da chapa encabeçada por Eleuses Paiva, atual presidente da Associação Paulista de Medicina e candidato único à presidência da Associação Médica Brasileira.
"Já há um consenso sobre essa necessidade", diz Paiva. A periodicidade dos exames ainda será definida, mas a tendência é que seja a cada cinco anos.
Antes de cobrar conhecimento dos médicos, as sociedades deverão oferecer cursos de educação continuada periódicos e em todas as regiões do país. O uso intenso da Internet também está previsto. "A maioria dos médicos ganha menos de R$ 2.000 e não poderia se deslocar para congressos estaduais e nacionais", diz Paiva.
A idéia da educação continuada já vem sendo adotada por algumas especialidades e é tema de amplo debate dentro da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). Uma proposta nesse sentido foi publicada na última edição dos Arquivos Brasileiros de Cardiologia por um grupo de médicos que vai levá-la ao Congresso Brasileiro de Cardiologia, que acontece em setembro.
No projeto, seus autores defendem um sistema de pontuação que garantiria a revalidação dos títulos de especialidade. Por exemplo, a presença em congressos e seminários, a apresentação de trabalhos e a publicação de artigos somariam um determinado de pontos.
"A maioria dos Estados americanos tem leis exigindo que o médico passe por uma atualização a cada dois anos", diz Bráulio Luna Filho, um dos autores da proposta e presidente da comissão de educação continuada dentro da SBC.
Médicos que não atingem uma determinada pontuação são convocados a dar explicações e a fazer exames. "A educação continuada é uma estratégia para lidar com o grande número de informações que surgem a cada dia na área médica", diz Celso Ferreira, co-autor da proposta e presidente da Fundação Brasileira de Cardiologia (SBC-Funcor).
Luna e Ferreira estimam que, para se manter atualizado, um médico cardiologista teria que ler -e absorver- uma média de 25 artigos científicos por dia. O conhecimento na área médica, que resistia por 15 ou 20 anos, vem mudando a uma velocidade anual. Em uma década, o número de informações nessa área deve dobrar a cada semana.
A educação continuada promovida pelas sociedades, com o estabelecimento de diretrizes para cada situação, é vista como a melhor forma de garantir a qualidade da medicina em todo o país.


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