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RETRATO DA VIOLÊNCIA
Mortes violentas diminuíram menos entre jovens; dados se referem ao período de 1999 a 2003
Homicídios caem 17% em 4 anos em SP
MARIANA VIVEIROS
DA REPORTAGEM LOCAL
A boa notícia é que a taxa de
mortes por homicídios no Estado
de São Paulo diminuiu, em média, 17% entre 1999 e 2003, o que
agora já vem sendo considerado
como uma tendência constante
de queda. A notícia não tão boa
assim é que a redução foi bem
menor do que a média entre as
principais vítimas desse tipo de
violência: os jovens.
Enquanto a taxa geral de pessoas assassinadas (ou vítimas de
agressões graves que levaram à
morte) caiu de 43,2 por 100 mil
em 1999 para 35,8 por 100 mil no
ano passado, entre os homens
que têm de 15 a 19 anos, no mesmo período, o índice variou só
7,8% para baixo (de 134 para 123,5
por 100 mil). Na faixa de 20 a 24
anos, a queda foi de 12% (de 194,9
para 171,4 mortos por 100 mil).
Os homens de 15 a 39 anos perfazem 77% das vítimas de homicídios no Estado de São Paulo.
Entre as mulheres jovens, a redução na taxa de assassinatos foi
menos expressiva. Entre 15 e 19
anos, houve até um leve aumento
de 4% entre 1999 e 2003 (de 10,3
para 10,8 por 100 mil). Para as que
têm de 20 a 24 anos, o índice também ficou praticamente estável:
caiu de 10,8 para 10,2 por 100 mil.
Todos os dados constam do
mais recente relatório da série SP
Demográfico - Estatísticas Vitais
do Estado de São Paulo, divulgados mensalmente pela Fundação
Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados) e disponíveis no site
www.seade.gov.br.
Eles chamam a atenção para
dois pontos. Primeiro mostram
que, de alguma forma, as políticas
de combate à violência têm conseguido atingir seus objetivos - já
que, após um pico de registro de
homicídios, entre 1999 e os primeiros anos deste século, os índices vêm diminuindo ano a ano.
Indicam, porém, ser urgente
priorizar iniciativas de prevenção
que afastem os jovens da violência, sobretudo associada à criminalidade, e de seus riscos. A avaliação é tanto dos técnicos da Seade como de ONGs e grupos que
estudam o tema.
Inclusão
"Enquanto não conseguirmos
promover a inclusão social dos jovens por vias honestas, não vamos reduzir os índices de homicídios entre os mais vulneráveis. E,
enquanto esse índice não cair, não
teremos um Estado seguro", afirma Denis Mizne, diretor-executivo do Instituto Sou da Paz.
Mizne diz que a redução do índice geral de homicídios pode ser
atribuído a três fatores: melhorias
na atuação das polícias, como o
reforço das bases comunitárias; a
política de controle de armas no
Estado, que quadruplicou o número de unidades apreendidas
entre 1997 e 2003; e a ação dos governos municipal e estadual e das
ONGs em regiões que têm aumento das mortes violentas.
"As reformas nos sistemas policial, penitenciário e judicial são
fundamentais para redução da
impunidade, assim como medidas estruturais para a redução das
desigualdades e medidas focais
para populações vulneráveis específicas, como os jovens", defende Maria Fernanda Tourinho Peres, pesquisadora do Núcleo de
Estudos da Violência, da USP
(Universidade de São Paulo).
Ela questiona a avaliação otimista da Fundação Seade. "São
muitos os estudos que demonstram que as mortes classificadas
como com intencionalidade indeterminada são, na realidade, homicídios e agressões não-classificados, e o aumento desses casos
aponta, na verdade, para uma subestimação das mortes por agressões e homicídios no Estado a
partir de 1999."
A fundação se baseia nas declarações de óbito dos cartórios de
registro civil, apresentadas por
área de residência das vítimas.
Segundo o demógrafo Antonio
Marangone, que participou da
elaboração do SP Demográfico,
enquanto em São Paulo se comemora a taxa de 35,8 homicídios
por 100 mil, em países como França, Inglaterra e até Portugal, o índice anual pode chegar a 1 morte
violenta por 100 mil habitantes.
Colaborou FERNANDA MENA, da Reportagem Local
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