São Paulo, quarta-feira, 17 de setembro de 2008

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Policiais em greve só atendem casos graves

Paralisação iniciada ontem é por tempo indeterminado, diz sindicato; centenas de pessoas não conseguiram atendimento ontem

Categoria quer aumento de 15%, entre outros pontos; governo diz que reivindicação está "fora da realidade orçamentária do Estado"

Caio Guatelli/Folha Imagem
Policiais protestam por reajuste diante do 1º DP (centro); em 26 DPs, atendimento esteve restrito a casos de maior gravidade

DA REPORTAGEM LOCAL
DA FOLHA RIBEIRÃO
DA AGÊNCIA FOLHA

Os policiais civis de São Paulo entraram ontem em greve por tempo indeterminado, suspendendo parcialmente o atendimento à população em boa parte das delegacias da capital e do interior do Estado. Centenas de pessoas que procuraram a polícia para registrar casos como de furto, roubo e perda de documentos foram orientadas a voltar para casa.
Nas cadeias públicas, principalmente do interior do Estado, advogados não puderam visitar os presos -que também não foram levados a audiências no fórum. Só foram cumpridos mandados de soltura. A Polícia Militar, responsável pelo patrulhamento ostensivo, não aderiu ao movimento.
A Folha esteve em 45 dos 93 distritos policiais da capital e verificou que em 26 o atendimento estava restrito a casos de maior gravidade. Segundo o sindicato, desses 93, 62 apoiaram o movimento. No interior, diz a entidade, a adesão foi ainda maior: atingiu 49 das 52 delegacias seccionais.
A gestão José Serra (PSDB) não quis fazer um balanço da greve. Por meio de nota oficial, a Secretaria da Segurança Pública afirmou que a greve é "despropositada" e que os policiais optaram pelo "risco e pela intransigência".
Os policiais estão em estado de greve desde o dia 13 de agosto, quando fizeram paralisação de apenas sete horas. Eles reivindicam aumento salarial de 15% neste ano e reajustes de 12% nos dois anos seguintes. A pauta de reivindicações inclui outros itens como a eleição direta para delegado-geral.
O governo ofereceu um investimento de R$ 500 milhões na folha de pagamento em 2009, o que representaria reajuste de cerca de 7%, segundo cálculo da Folha. Em relação à eleição direta para delegado-geral, o secretário da Segurança Pública, Ronaldo Marzagão, já disse tratar-se de uma proposta inadmissível e inviável.
O delegado André Dahmer, da Adpesp (associação dos delegados de polícia do Estado), afirmou que, das 8h às 13h de ontem, foram registrados na capital 230 boletins de ocorrência (que dão o início à investigação policial). Na terça passada, sem greve, foram 497 no mesmo período.
Policiais de delegacias de Ribeirão Preto, Araraquara, São Carlos e Franca afirmaram que cerca de 300 pessoas deixaram de ser atendidas ontem. "Toda a greve causa um certo prejuízo à população. Mas estamos procurando fazer de tal forma que cause o menor prejuízo possível", diz o presidente da Adpesp, Sérgio Marcos Roque.

80% do efetivo
Liminar do TRT (Tribunal Regional do Trabalho), mantida por decisão anteontem do STF (Supremo Tribunal Federal), determina o comparecimento de 80% dos policiais às delegacias e impede a interrupção total de qualquer tipo de atividade, sob pena de multa diária de R$ 200 mil. O sindicato diz que está cumprindo a decisão do TRT.
Policiais afirmaram à Folha que, na capital, o movimento foi mais forte nas delegacias de bairros mais afastados. Funcionários do 14ºDP (Pinheiros), 15º DP (Itaim Bibi) e 23ºDP (Perdizes) disseram não ter aderido à greve com medo de serem transferidos pela Secretaria da Segurança para delegacias da periferia. (JULIANA COISSI, KLEBER TOMAS e LUIS KAWAGUTI)



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