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BARBARA GANCIA
Barrichello é o que Barrichello demonstra ser
Uma palavrinha sobre
Rubens Barrichello, o anti-herói que nove entre dez torcedores adoram esculhambar. Na
temporada de F-1 que terminou
no domingo, em alguns momentos, Rubens conseguiu ser estupendo. A imprensa tapuia nunca
se dá ao trabalho de descrever as
qualidades de nosso melhor piloto nem perde um minuto sequer
para falar de seu estilo de pilotagem limpo, elegante e sempre leal,
que tem tudo do jeito de guiar de
campeões como Emerson Fittipaldi e Jackie Stewart.
Os trancos e solavancos usados
por pilotos cuja marca é o arrojo,
como Schumacher e Senna, não
fazem parte do repertório de Barrichello. Assim como Stewart, ele
prefere o refinamento das manobras sutis e trata o carro com a delicadeza de quem acarinha a mulher amada.
Pela quarta vez consecutiva,
Rubens ajudou a Ferrari a superar recordes no Campeonato
Mundial. Conseguiu duas vitórias que confirmaram sua enorme capacidade como piloto e
acertador de carros e fechou o
ano com chave de ouro, ganhando um beijo semipornográfico de
seu chefe de equipe, Jean Todt, no
pódio do GP do Japão. O gesto pode ter sido apenas fruto da empolgação, mas serviu para mostrar
ao mundo que a Ferrari, ao contrário do que faz crer a mídia brazuca, reconhece, sim, a importância do trabalho que o piloto realiza na equipe.
Mas, se Rubens possui tantos
atributos, por que é tratado por
seu público como um palhaço que
nunca dá uma bola dentro?
Algo me diz que gente como Rubens Barrichello está fora de moda. A maneira sincera, a ponto de
beirar a ingenuidade, com que ele
se apresenta perante a imprensa e
o público não emplaca. Nós nos
acostumamos ao charme maquinado de ídolos com frases estudadas para cada ocasião. A espontaneidade deixou de ser "sexy".
Pois quer saber? É um alento
perceber que ainda existem pessoas na mídia do feitio do nosso
Barrichello, que agem com naturalidade e jogam limpo, mesmo
sob pressão.
Não tive a menor dúvida de que
ele estava falando a verdade depois da corrida em Indianápolis,
quando Barrica afirmou ao repórter da Globo que jamais passaria pela sua cabeça fazer uma
manobra para retardar de propósito a largada do adversário.
Por que haveria de duvidar da
palavra de Barrichello, se nunca o
vi cometer nenhuma deslealdade,
dentro ou fora da pista? Já se fosse
o Michael, o Ralf ou o Montoya,
será que alguém teria acreditado,
de pronto, na palavra deles?
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