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São Paulo, sexta-feira, 17 de outubro de 2003

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BARBARA GANCIA

Barrichello é o que Barrichello demonstra ser

Uma palavrinha sobre Rubens Barrichello, o anti-herói que nove entre dez torcedores adoram esculhambar. Na temporada de F-1 que terminou no domingo, em alguns momentos, Rubens conseguiu ser estupendo. A imprensa tapuia nunca se dá ao trabalho de descrever as qualidades de nosso melhor piloto nem perde um minuto sequer para falar de seu estilo de pilotagem limpo, elegante e sempre leal, que tem tudo do jeito de guiar de campeões como Emerson Fittipaldi e Jackie Stewart.
Os trancos e solavancos usados por pilotos cuja marca é o arrojo, como Schumacher e Senna, não fazem parte do repertório de Barrichello. Assim como Stewart, ele prefere o refinamento das manobras sutis e trata o carro com a delicadeza de quem acarinha a mulher amada.
Pela quarta vez consecutiva, Rubens ajudou a Ferrari a superar recordes no Campeonato Mundial. Conseguiu duas vitórias que confirmaram sua enorme capacidade como piloto e acertador de carros e fechou o ano com chave de ouro, ganhando um beijo semipornográfico de seu chefe de equipe, Jean Todt, no pódio do GP do Japão. O gesto pode ter sido apenas fruto da empolgação, mas serviu para mostrar ao mundo que a Ferrari, ao contrário do que faz crer a mídia brazuca, reconhece, sim, a importância do trabalho que o piloto realiza na equipe.
Mas, se Rubens possui tantos atributos, por que é tratado por seu público como um palhaço que nunca dá uma bola dentro?
Algo me diz que gente como Rubens Barrichello está fora de moda. A maneira sincera, a ponto de beirar a ingenuidade, com que ele se apresenta perante a imprensa e o público não emplaca. Nós nos acostumamos ao charme maquinado de ídolos com frases estudadas para cada ocasião. A espontaneidade deixou de ser "sexy".
Pois quer saber? É um alento perceber que ainda existem pessoas na mídia do feitio do nosso Barrichello, que agem com naturalidade e jogam limpo, mesmo sob pressão.
Não tive a menor dúvida de que ele estava falando a verdade depois da corrida em Indianápolis, quando Barrica afirmou ao repórter da Globo que jamais passaria pela sua cabeça fazer uma manobra para retardar de propósito a largada do adversário.
Por que haveria de duvidar da palavra de Barrichello, se nunca o vi cometer nenhuma deslealdade, dentro ou fora da pista? Já se fosse o Michael, o Ralf ou o Montoya, será que alguém teria acreditado, de pronto, na palavra deles?


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