São Paulo, domingo, 17 de outubro de 2004

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IMAGEM MANCHADA

Governos estrangeiros fazem extensa lista de recomendações a viajantes sobre riscos nas grandes cidades

Brasil é visto como destino turístico perigoso

ÉRICA FRAGA
DE LONDRES

Se você está planejando visitar o Brasil, tome muito, mas muito cuidado. Em linhas gerais, essa é a mensagem passada pelos governos de alguns dos principais países desenvolvidos nos alertas que fornecem aos turistas que pretendem viajar para grandes cidades brasileiras, como Rio e São Paulo.
Tráfico e uso crescente de drogas, violência sexual, assalto a mão armada, roubos em táxis, seqüestros relâmpagos, indivíduos que apóiam organizações terroristas e vários tipos de golpes.
Esses são alguns dos problemas citados nas páginas de orientação aos turistas, mantidas por ministérios de relações exteriores de países como França, Reino Unido, Austrália, Canadá e EUA.
Embora nem o Brasil nem nenhuma cidade do país conste das relações de lugares que não devam ser visitados elaboradas pelos ministérios, a lista de possíveis perigos no país chama a atenção pela sua extensão e diversidade.
Em alguns casos essas listas até aumentaram. Cópia da página da internet do governo britânico de setembro de 2002, obtida pela Folha, mostra que não se falava em violência sexual no país naquela época. Já a página atual diz que algumas "agressões sexuais têm sido registradas em áreas turísticas costeiras". O governo da Austrália apresenta a mesma advertência.
O governo britânico também passou a destacar o perigo de incidentes, mesmo em destinos que "pareçam seguros". Nas páginas de alguns países, os seqüestros relâmpagos passaram a ser citados.

Rio
O Departamento de Estado norte-americano passou a falar, em sua página, de indivíduos que apóiam, financeiramente, organizações terroristas. Em relação ao Rio, alerta para os possíveis problemas decorrentes de tentativas de "chefões das drogas encarcerados para exercer seu poder".
Um funcionário do governo francês disse à Folha que, de forma geral, o conteúdo das instruções dadas aos turistas que planejam ir ao Brasil não mudou -mas o tom, sim. Ele explica que o governo tem a obrigação de transmitir aos cidadãos a "percepção do aumento da violência".
Essa mudança de tom é percebida logo no parágrafo de abertura dos chamados "conselhos gerais de segurança", que destaca, em negrito: "Uma grande prudência é, de agora em diante, requerida dos viajantes que forem ao Rio."
São Paulo também tem seu quinhão de perigos, segundo os sites internacionais. O governo dos EUA afirma que há "registros regulares de jovens mulheres que jogam sedativos nas bebidas dos homens para roubarem todos os seus pertences enquanto eles estiverem inconscientes".
Os governos também fornecem conselhos práticos. Pedem que viajantes não reajam em caso de roubo, ressaltando que o agressor pode estar armado, e orientam até sobre a quantia de dinheiro aceitável para um assaltante.
"Não estamos dizendo para as pessoas não irem ao Brasil. A intenção é pedir que sejam mais cautelosas", disse um porta-voz do Ministério de Relações Exteriores da Grã-Bretanha, que diz em sua página que a maior parte das idas ao Brasil ocorre sem problemas.

"The Independent"
As orientações aos turistas refletem, segundo analistas, a percepção do problema crescente da violência no país pelos governos, organizações e órgãos de imprensa estrangeiros. Uma medida dessa visão foi dada, na última semana, por uma reportagem do jornal britânico "The Independent" sobre o Rio, cujo título era "A cidade da cocaína e da carnificina".
"Muitas vezes quando ouvimos falar algo do Brasil em outros países, pensamos "não é bem assim". Mas esse artigo do "Independent" mostra uma realidade", diz Francesco Panizza, professor da LSE (London School of Economics and Political Sciences), especializado em América do Sul. Para Panizza, os conselhos dos governos aos turistas vão na mesma linha: alertam para perigos reais.
"O governo brasileiro não tem tido estratégia para combater a violência, e essa inação só faz a situação piorar. O Rio tinha de ser a capital do turismo mundial, mas a violência crescente não deixa."
Segundo Dan Platt, pesquisador de Brasil na Anistia Internacional, o destaque dos problemas de violência no exterior pode ter efeito positivo. "Muitas vezes o carioca fica cego ao problema da violência nas favelas até que esta chegue às praias. Esse tipo de destaque, talvez, force a sociedade a se mobilizar mais e o governo a agir."


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