São Paulo, sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Próximo Texto | Índice

Policiais civis e PMs entram em confronto

Grevistas rompem barreira da Polícia Militar para protestar em frente à sede do governo de SP; pelo menos 25 ficam feridos

Confronto entre forças policiais nunca havia ocorrido no Estado; no ato, alguns policiais civis empunharam armas; coronel é ferido

Alex Almeida/Folha Imagem
Policiais militares disparam balas de borracha na tropa civil que tenta romper barreira para seguir em direção à sede do governo; policiais civis em greve exigiam diálogo com o Executivo

DA REPORTAGEM LOCAL

Policiais civis e militares entraram em confronto ontem perto do Palácio dos Bandeirantes. No conflito foram usadas bombas de gás lacrimogêneo, de efeito moral e munição convencional e de borracha. Ao menos 25 pessoas ficaram feridas. O coronel da PM Danilo Antão Fernandes foi atingido por uma bala na perna.
É a primeira vez que as polícias entram em confronto no Estado de São Paulo.
O confronto aconteceu por volta das 16h, quando centenas de policiais civis em greve, que exigiam ser recebidos pelo governo, romperam uma barreira da PM para seguir em direção ao palácio, no Morumbi (zona oeste de São Paulo).
No confronto, alguns policiais civis protestavam empunhando armas. Os PMs lançaram bombas de gás lacrimogêneo e fizeram disparos. O enfrentamento só terminou às 17h, mas a situação continuou tensa até o início da noite.
Por volta das 18h, um primeiro-tenente da PM tentou passar entre os policiais civis e acabou cercado e agredido. O comando de greve orientou os manifestantes a deixarem a região somente às 20h10. Pelo menos 12 carros da PM ficaram parados na avenida com os pneus rasgados por facas.
A greve completou ontem um mês. Os policiais exigem 15% de reajuste imediato e outros 12% em 2009 e, em 2010, eleição direta para delegado-geral, cargo estratégico na polícia. A gestão Serra ofereceu 6,2%, aposentadoria especial (aos 30 anos de carreira) e o fim das faixas de menor salário.

O protesto
Os policiais civis se concentraram às 13h, em frente ao estádio do Morumbi. Por volta das 15h, 14 sindicalistas aguardavam um representante do governo para negociar, na avenida Padre Lebret, em frente à barreira da PM. Os manifestantes ficaram a cem metros dali.
Uma hora depois, avançaram em direção à barreira da PM, o que deu início ao confronto. Enquanto os policiais se enfrentavam, um carro de som tocava o Hino Nacional. O governo diz que a área é de segurança e que atos são proibidos ali.
"De repente começaram a jogar bomba. Pensei que iria morrer", disse Mariza Cunha, carcereira em Ribeirão Preto.
O conflito ocorreu quando Sidney Beraldo, secretário estadual de Gestão Pública, se preparava para receber sindicalistas, diz o governo.
Policiais civis hostilizaram policiais militares chamando-os de "vendidos", "pelegos" e "puxa-saco do governo". O governador José Serra (PSDB) também foi acusado de jogar "uma polícia contra a outra".
"Vocês [PMs] vão pagar caro por isso", afirmou, do alto do carro de som, José Leal, presidente do sindicato dos delegados. Após o confronto, Leal disse que não haveria rivalidade entre as polícias e que o problema "era com o governador".
Serra disse que a manifestação foi de uma "pequena minoria" com "interesses político-eleitorais" para influenciar o segundo turno das eleições.
O protesto foi apoiado pelos deputados estaduais Major Olímpio (PV), Carlos Giannazi (PSOL) e Roberto Felício (PT) além do deputado federal e presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva (PDT), o Paulinho. CUT, UGT e CGTB também participaram. "Não adianta ficar na praça. O cara que manda [Serra] está lá em cima. Devemos subir", disse Paulinho no carro de som.
O delegado supervisor do Garra, Osvaldo Nico Gonçalves, disse que tentou impedir o avanço dos manifestantes e que pediu aos sindicalistas e deputados que "não inflamassem o discurso", pois haveria confronto. "Deputados e sindicalistas não deveriam ter vindo aqui", disse após o incidente.
Indagado se não temia ser responsabilizado, antes do conflito, Paulinho disse: "Já tenho tantos processos, mais um...".
O governo montou três cordões de isolamento para evitar que o ato chegasse à frente do palácio. O primeiro, de policiais civis, tinha 40 carros e 50 motos do Garra, mais 30 carros do GOE, totalizando 260 policiais. Outras duas barreiras eram formadas por policiais militares da Tropa de Choque, da Cavalaria e da Força Tática.

(RICARDO SANGIOVANNI, ANDRÉ CARAMANTE, CATIA SEABRA)


Próximo Texto: Até funcionários de hospital se feriram durante protesto
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.