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Literatura de cordel no Rio "condena" goleiro Bruno
Folheto vendido em banca mostra ex-jogador como assassino de Eliza
Outros casos policiais, como o de Isabella Nardoni e do menino João Hélio, também são motes de publicações
FELIPE CARUSO
DO RIO
Numa banca do Centro
Luiz Gonzaga de Tradições
Nordestinas, em São Cristóvão, zona norte do Rio, o goleiro Bruno Fernandes, suspeito de envolvimento no desaparecimento de sua ex-amante Eliza Samudio, já foi
condenado pelo crime.
A "condenação" está em
um folheto de cordel vendido
na feira. Nele, o jogador suspenso do Flamengo é apresentado como responsável
pela morte de Eliza.
"Bruno com seus amigos
Em ato que traz repúdio/ De
forma vil e cruel/ Matou Eliza
Samudio/ Como em filme de
terror/ Produzido num estúdio" é o que contam os versos
do folheto escrito por Isael
de Carvalho.
Casos como o de Isabella
Nardoni e do menino João
Hélio também foram contados em sextilhas -estrofe de
seis versos usada em cordéis.
A literatura de cordel veio
de Portugal para o Brasil na
colonização. O nome vem da
forma como os folhetos eram
vendidos, pendurados em
cordas ou barbantes.
No Nordeste, a poesia se
popularizou, primeiro de forma oral e depois escrita, virando um importante meio
de divulgação de notícias.
José João dos Santos, 78,
conhecido como Mestre Azulão e membro da Academia
Brasileira de Literatura de
Cordel, afirma que "a função
do poeta é ser jornalista".
"No Nordeste, o que acontecia no Brasil e no mundo, o
cordel espalhava. Agora, já
tem até televisão para aqueles lados, mas o povo que
gosta de poesia só acredita
quando lê no cordel."
Mestre Azulão pôs em versos a morte da Isabella Nardoni, 5, pela qual o pai dela,
Alexandre Nardoni, e a madrasta, Anna Jatobá, foram
condenados em março.
"Lhe apertaram o pescoço/ Asfixiando Isabella/ Julgando que estava morta/
Com faca cortaram a tela/
Naquele horroroso drama/
Pisando em cima da cama/
Lhe atirou pela janela."
Em 2007, a morte de João
Hélio, 6, também foi narrada
por ele. O menino morreu ao
ser arrastado pelas ruas do
Rio, preso ao cinto de segurança do carro da família que
foi levado por assaltantes.
"João Hélio Fernandes foi/
Aquela pobre criança/ Que
teve uma morte horrível/ Da
mais estúpida vingança/ Dos
monstros enfurecidos/ Arrastado por bandidos/ Num
cinto de segurança."
Para escrever, Mestre Azulão busca fontes de informações variadas. "De um jornal
para outro tem diferença."
Isael de Carvalho, antes da
sextilha que condena Bruno,
se isenta de apurar os fatos.
"Tudo que aqui foi escrito/
Já foi bem noticiado/ Minhas
são somente rimas/ Nesse tema conturbado/ Investigação só cabe/ A quem é credenciado", diz o texto.
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