São Paulo, domingo, 17 de outubro de 2010

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Literatura de cordel no Rio "condena" goleiro Bruno

Folheto vendido em banca mostra ex-jogador como assassino de Eliza

Outros casos policiais, como o de Isabella Nardoni e do menino João Hélio, também são motes de publicações

FELIPE CARUSO
DO RIO

Numa banca do Centro Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas, em São Cristóvão, zona norte do Rio, o goleiro Bruno Fernandes, suspeito de envolvimento no desaparecimento de sua ex-amante Eliza Samudio, já foi condenado pelo crime.
A "condenação" está em um folheto de cordel vendido na feira. Nele, o jogador suspenso do Flamengo é apresentado como responsável pela morte de Eliza.
"Bruno com seus amigos Em ato que traz repúdio/ De forma vil e cruel/ Matou Eliza Samudio/ Como em filme de terror/ Produzido num estúdio" é o que contam os versos do folheto escrito por Isael de Carvalho.
Casos como o de Isabella Nardoni e do menino João Hélio também foram contados em sextilhas -estrofe de seis versos usada em cordéis.
A literatura de cordel veio de Portugal para o Brasil na colonização. O nome vem da forma como os folhetos eram vendidos, pendurados em cordas ou barbantes.
No Nordeste, a poesia se popularizou, primeiro de forma oral e depois escrita, virando um importante meio de divulgação de notícias.
José João dos Santos, 78, conhecido como Mestre Azulão e membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel, afirma que "a função do poeta é ser jornalista".
"No Nordeste, o que acontecia no Brasil e no mundo, o cordel espalhava. Agora, já tem até televisão para aqueles lados, mas o povo que gosta de poesia só acredita quando lê no cordel."
Mestre Azulão pôs em versos a morte da Isabella Nardoni, 5, pela qual o pai dela, Alexandre Nardoni, e a madrasta, Anna Jatobá, foram condenados em março.
"Lhe apertaram o pescoço/ Asfixiando Isabella/ Julgando que estava morta/ Com faca cortaram a tela/ Naquele horroroso drama/ Pisando em cima da cama/ Lhe atirou pela janela."
Em 2007, a morte de João Hélio, 6, também foi narrada por ele. O menino morreu ao ser arrastado pelas ruas do Rio, preso ao cinto de segurança do carro da família que foi levado por assaltantes.
"João Hélio Fernandes foi/ Aquela pobre criança/ Que teve uma morte horrível/ Da mais estúpida vingança/ Dos monstros enfurecidos/ Arrastado por bandidos/ Num cinto de segurança."
Para escrever, Mestre Azulão busca fontes de informações variadas. "De um jornal para outro tem diferença."
Isael de Carvalho, antes da sextilha que condena Bruno, se isenta de apurar os fatos.
"Tudo que aqui foi escrito/ Já foi bem noticiado/ Minhas são somente rimas/ Nesse tema conturbado/ Investigação só cabe/ A quem é credenciado", diz o texto.


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