São Paulo, domingo, 17 de novembro de 2002

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Atrações dividem espaço com favelas

DA AGÊNCIA FOLHA, EM OURO PRETO

As igrejas e o casario do século 18 em Ouro Preto, antes em harmonia com o verde das encostas, agora têm como pano de fundo favelas e grandes construções.
"A idéia de preservação não é a de que a cidade tenha que parar de crescer ou que as novas construções sigam o estilo do século 18. Elas não podem é competir com os monumentos históricos", diz o vice-diretor do Ifac (Instituto de Filosofia, Artes e Cultura) da Ufop (Universidade Federal de Ouro Preto), José Tomaz da Silva.
Ele disse a frase olhando para o shopping San Francesco de Paola, construído em área tombada, entre as igrejas São José e São Francisco de Paula. O empreendimento, ainda sem funcionar, foi aprovado por prefeitura e Iphan. A obra motivou a fundação da associação Amo Ouro Preto, pela preservação do patrimônio histórico.
Para o padre José Feliciano Simões, Ouro Preto é a mais "relaxada" das cidades-patrimônio. "Não é só ocupação de encostas e tráfego pesado no centro histórico. Não há coisas simples, como placas indicativas nas igrejas e monumentos, horários de carga e descarga de caminhões."
Um caso emblemático é a primeira obra de Aleijadinho, um busto de mulher que decora um chafariz abandonado. Não há referência ao artista no local.
A obra fica diante do morro da Queimada, primeira encosta ocupada, nos anos 70. O local sediou os primeiros núcleos mineradores que originaram a então Vila Rica. "Estamos perdendo um belo sítio arqueológico. As pessoas que invadiram o local usaram a base das casas do século 18 para construir as suas", diz Benedito de Oliveira, diretor do Iphan local.
"Todo mundo fica lamentando a ocupação do morro da Queimada, mas o processo continua com a ocupação de outras áreas", diz o vereador Wanderley Kuruzu (PT), do Conselho Municipal de Trânsito, que trata de outro tema polêmico: o tráfego intenso de caminhões e ônibus no centro.
O debate cresceu após um caminhão, na semana passada, destruir o chafariz da igreja de Nossa Senhora do Pilar. Outra necessidade é criar estacionamentos fora do centro histórico. "A praça Tiradentes virou estacionamento barroco", diz Kuruzu. (FK)


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