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SEGURANÇA
Esclarecimento de dois casos revela preferência por vítimas de classe média alta; valor médio dos resgates é de R$ 10 mil
Quadrilhas mudam alvo de sequestro em SP
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
O fim de dois sequestros ontem
em São Paulo -o de um estudante de 17 anos que teve um dedo da
mão decepado e o de uma empresária de 27 anos- revelou os detalhes de uma nova fase desse tipo
de crime, que apresenta queda
nas estatísticas oficiais.
Vítimas pertencentes à classe
média alta são o alvo principal
dos grupos de sequestradores,
formados por foragidos da prisão
e novos líderes de quadrilha.
Depois da banalização dos sequestros, com números recordes
em 2001 e 2002, o crime teve redução drástica neste ano, mas ainda
apresenta registros acima de
2000. De outubro de 2003 até ontem, foram 26 sequestros. Quatro
ainda estão em andamento.
De outubro a dezembro de
2002, foram 52 casos, contra 127
no mesmo período do ano anterior. Em 2000, o quarto trimestre
registrou 15 casos.
Os dois sequestros resolvidos
ontem pela polícia podem ser
considerados exemplos da nova
fase desse tipo de crime, segundo
o diretor da DAS (Divisão Anti-Sequestro), Wagner Giudice.
As novas características estão
no perfil das vítimas e dos sequestradores e na atuação dos bandidos. Na banalização dos sequestros, pessoas de classe média e até
baixa passaram a ser vítimas.
Com a redução das estatísticas,
o nível econômico das vítimas subiu, mas nem só os ricos têm razão para se preocupar. "Isso ficou
mais nivelado. A maioria das vítimas pertence à classe média alta",
disse Giudice.
Só que na maior parte dos sequestros, o resgate não é pago e,
nos casos em que os sequestradores receberam dinheiro, os valores não são altos. "A média dos
resgates pagos é de R$ 10 mil",
disse o delegado. Segundo ele, as
vítimas também não são mais escolhidas aleatoriamente, como
ocorria durante o recorde do número de casos. "O sequestro está
mais longo, o sequestrador está
estudando melhor a vítima e está
mais cauteloso", disse.
O sequestro do jovem, libertado
ontem, segue esse perfil. O jovem
ficou 74 dias em um cativeiro na
zona leste e só foi libertado porque a polícia prendeu Willian
Franklin de Freitas Vargas, 24, o
Willian Fantasma, foragido da cadeia, que seria o mentor do crime.
Ele também é suspeito de participar de mais seis sequestros.
Depois de preso, Willian Fantasma ligou para os outros sequestradores -três menores de
idade, segundo a polícia- e ordenou que o adolescente fosse solto.
O jovem foi liberado na madrugada de ontem, sem que o resgate de
US$ 500 mil fosse pago.
A quadrilha mandou o dedo à
família do garoto na sexta-feira. O
grupo teria usado analgésico no
momento de decepar o dedo e depois deu antiinflamatórios e antibióticos ao jovem, filho de um dono de postos de gasolina.
A outra vítima resgatada ontem
é dona de uma farmácia nos Jardins (zona oeste). Ela ficou um dia
no cativeiro e foi resgatada devido
a uma informação passada ao
Disque-Denúncia. A quadrilha tinha pedido resgate de R$ 500 mil.
Ninguém foi preso.
"Os sequestradores de hoje são
foragidos da cadeia ou bandidos
que pertenciam ao segundo escalão das quadrilhas e subiram na
hierarquia com a prisão dos líderes", disse Giudice.
Segundo ele, existe hoje cerca de
15 homens na rua que têm experiência em sequestro e fazem contato com várias quadrilhas
-principalmente ladrões de banco- para cometer esse tipo de
crime em São Paulo.
Nessa lista, estão foragidos da
cadeia e novos líderes que tomaram lugar dos sequestradores
presos. Na fuga em massa da Penitenciária do Estado, no complexo do Carandiru, no dia 9 de novembro, pelos menos seis sequestradores conseguiram escapar.
Cinco deles tinham sido presos
pela própria Divisão Anti-Sequestro, segundo Giudice.
Um desses foragidos, Fábio Fernandes da Silva, também teria dado apoio no sequestro do adolescente, que já estava em andamento quando ele conseguiu escapar
por um túnel da penitenciária. A
sua participação foi informada à
polícia por Willian Fantasma, que
teria confessado o crime.
A polícia também afirma que os
sequestradores estão mais cautelosos e buscam meios para burlar
a investigação policial. Willian
Fantasma, por exemplo, contava
com o apoio de Ítalo Antonio dos
Santos de quem comprava telefones celulares clonados.
Os aparelhos eram usados para
contatos entre os membros da
quadrilha e pedidos de resgate, e
depois eram descartados para
confundir a polícia. "Isso dificultou muito o trabalho no caso do
adolescente", disse Giudice.
Foi por intermédio de Santos,
preso na semana passada, que a
polícia descobriu a participação
de Willian Fantasma. Segundo
anotações encontradas em sua casa, Santos tinha mais de 500 celulares clonados. Cada aparelho era
vendido a R$ 100.
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