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OPINIÃO
Fundeb: solução ou paliativo?
Essa será a nossa "escolha de Sofia": continuar privilegiando uma parte dos nossos aposentados -o passado- ou investir nas nossas crianças- o futuro
SONIA PENIN
ESPECIAL PARA A FOLHA
SUCESSOR do Fundef, o
Fundeb estendeu aos
ensinos médio e infantil
o mecanismo de juntar verba
da União ao gasto obrigatório
de Estados e municípios com
a educação. Dada a diversidade nacional, espera-se que a
proposta, assegurando o devido montante ao ensino fundamental, não engesse a decisão dos governos estaduais e
municipais sobre como usar o
recurso. Dessas instâncias espera-se um plano para universalizar com qualidade os ensinos fundamental, médio
e infantil, com avaliação.
O Fundeb considera demandas sociais. O ensino médio é ambição de jovens, que
buscam de forma dramática a
inserção no mundo do trabalho ou continuidade de estudo. Igualmente é aspiração da sociedade, que necessita de
mais estudantes no ensino
superior, construtores do desenvolvimento sustentável.
Por outro lado, a educação infantil amplia as referências
culturais das crianças, prenunciando uma escolarização
mais fluida, além de facilitar a
vida das mães trabalhadoras.
A melhoria da educação básica apóia-se na valorização
do professor, com salário justo, carreira atraente e formação continuada qualificada. A dificuldade em lidar com a diferenciação entre os alunos e
demandas contemporâneas
exige interlocução para os
professores. Soluções para lidar com as conseqüências negativas da rotatividade e do absenteísmo carecem de discussão. Tempo integral, número de alunos por classe, materiais didáticos específicos e de informática e prédios
escolares erguidos com funcionalidade e parcimônia
precisam ser considerados.
O Fundeb é transitório, necessário, mas o país clama pela superação radical da desigualdade. A ampliação da verba, vis-à-vis o aumento do número de alunos atendidos, será suficiente para desatar
problemas arraigados? Não
está claro o impacto que a
rearquitetura do Fundeb terá
na fatia da educação no PIB
nacional. Solver a dívida histórica pressupõe alargar a
porcentagem da educação para além de 4,5% do PIB.
Há de se atuar sobre o cerne
da injusta distribuição do Orçamento: 13,7% para a Previdência, 7,5% para a saúde, 7%
para juros, 4,5% para a educação, 4,25% para superávit primário, 4,25% para todos os outros setores. Como elevar
imposto é insustentável, o
Brasil tem uma das mais elevadas taxações (38% do PIB, a
média de países em desenvolvimento é 20%-25%), há que
se repensar essa distribuição.
Além da evidente necessidade de reduzir os juros, urge
examinar o caso da Previdência, cujo gasto é muito superior à média mundial de 6%, mas cuja diminuição não pode atingir a maioria da população trabalhadora que ganha ínfima aposentadoria, e sim
setores privilegiados -Forças Armadas, Legislativo, algumas áreas do Executivo e o Judiciário (lembrando que no
passado o ganho do professor
era semelhante ao de juízes).
Se outra solução não se
apresentar, essa será a nossa
"escolha de Sofia": continuar
privilegiando parte dos nossos aposentados, o passado,
ou investir nas nossas crianças, o futuro.
SONIA PENIN é diretora da Faculdade de Educação da USP
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