São Paulo, domingo, 17 de dezembro de 2006

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Ex-chefe de polícia é líder de quadrilha, diz delegado

Deputado estadual Álvaro Lins (PMDB) é acusado de comandar grupo de policiais que protegiam bicheiro e proprietários de máquinas caça-níqueis no Rio

MP pede a prisão de 43 pessoas, entre elas policiais ligados ao deputado, ex-chefe de polícia de Anthony e Rosinha Garotinho

RAPHAEL GOMIDE
SERGIO COSTA

DA SUCURSAL DO RIO

O ex-chefe de Polícia dos governos Rosinha e Anthony Garotinho e deputado estadual eleito, Álvaro Lins (PMDB), foi acusado por investigações da Polícia Federal de ser o "chefe" de quadrilha de policiais civis que ofereciam proteção ao bicheiro Fernando de Miranda Iggnácio, preso em outubro. A afirmação foi feita ontem pelo delegado Alessandro Moretti, responsável pela operação Gladiador, deflagrada anteontem.
"Tínhamos a informação de que um grupo da Polícia Civil protegia um grupo da máfia de caça-níqueis e controlava a guerra na zona oeste para que não chegasse ao caos. As investigações mostram que Álvaro Lins é o chefe do grupo", disse Moretti. Até a conclusão desta edição, Lins não havia sido localizado pela Folha.
O Ministério Público Federal ofereceu denúncia e pediu prisão preventiva contra 43 acusados. São bicheiros, policiais militares e civis, contadores, advogados e um jornalista. A Justiça autorizou a prisão de 19. Cinco já estavam presos antes do início da operação, entre eles os donos de caça-níqueis e inimigos Iggnácio e Rogério Andrade. Mais cinco foram presos na sexta-feira.
Ontem, o policial civil Paulo Cesar Oliveira foi preso em casa, em Padre Miguel, zona norte da cidade. Segundo Moretti, o agente era responsável pela entrega da propina, em envelopes, de Iggnácio a outros policiais. Ele foi peso sem resistência. Agentes da PF buscavam os outros oito foragidos ontem.

Jornalista sob suspeita
Foi pedida também a prisão do jornalista José Messias Xavier, produtor da TV Globo. Ele é acusado de receber dinheiro da quadrilha de Iggnácio para repassar informações sobre ações das polícias Civil e Federal que pudessem contrariar os interesses dos criminosos. A Justiça negou o pedido de prisão do jornalista, mas concedeu mandato de busca e apreensão na sua casa, que estava sendo cumprido na tarde de ontem.
A suposta participação do jornalista foi descoberta a partir de escutas telefônicas de integrantes do grupo de Iggnácio, em especial o advogado dele com Silvio Maciel de Carvalho, seu principal contato, com quem o jornalista mantinha freqüentes ligações, de acordo com o Ministério Público.
Messias Xavier trabalhou nos jornais "A Notícia", "Extra" e prestou serviços à Folha entre 20 de junho e 7 de outubro de 2005. Entre os textos jornalísticos que produziu estão o relato da investigação da Polícia Federal sobre a suposta ligação de Lins com a máfia dos caça-níqueis, a operação que apreendeu cocaína em carne exportada para Europa e o sumiço de dólares e euros da sede da PF no Rio.
A TV Globo, em seu telejornal local, informou que o jornalista entrou em licença, estaria disposto a autorizar a quebra de seu sigilo bancário e afirmou que a empresa confia na honestidade de seus funcionários. A Folha não conseguiu localizar Xavier ontem.
Entre os denunciados pelo Ministério Público estão os inspetores Hélio Machado da Conceição, Jorge Luís Fernandes e Fábio Menezes de Leão. Os policiais são ligados a Lins, de acordo com a Polícia Federal. A PF pediu a prisão do deputado, mas foi autorizada pela Justiça apenas a busca e apreensão em seu apartamento. A PF não a realizou na sexta, quando ele foi diplomado pelo TRE, por acreditar que tinha foro privilegiado. Estava equivocada -ele só terá a prerrogativa a partir da posse.


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