São Paulo, sexta-feira, 18 de janeiro de 2002

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Quadrilha sequestra helicóptero e resgata 2 de presídio em Guarulhos

Ação é inédita no sistema penitenciário do Estado; um dos foragidos é sequestrador e assaltante de banco

André Porto/Folha Imagem
O helicóptero Esquilo usado no resgate


ALESSANDRO SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL

Um sequestro de helicóptero em pleno vôo. E o piloto é obrigado a descer dentro de uma prisão de São Paulo. Dois detentos sobem correndo na aeronave, que decola em meio a tiros de policiais. A dupla e os resgatadores fogem sem deixar pista.
Esse é o resumo da fuga mais espetacular que o sistema prisional paulista já viu em sua história, ontem, em plena luz do dia. O feito é inédito no Estado de São Paulo. Igual no país, só a fuga do traficante José dos Reis Encina, o Escadinha, da penitenciária Ilha Grande (154 km do Rio), em 1985.
Como resultado da ação, estão de volta às ruas dois condenados, que juntos somam 99 anos de prisão a cumprir, fora processos e investigações ainda em andamento.
Um dos foragidos é o sequestrador e assaltante de banco Dionizio de Aquino Severo, 37.
O outro é Ailton Alves Feitosa, condenado por assalto, atentado violento ao pudor e homicídio.
O Estado vive uma epidemia de sequestros sem precedentes em sua história. Balanço parcial da Secretaria da Segurança Pública, que não inclui todos os dados do interior, mostra que ocorreram 307 sequestros em 2001, contra os 63 casos em 2000.

O sequestro
Pouco antes das 13h, dois homens entraram em um hangar do Campo de Marte, na capital, e alugaram um helicóptero, um modelo Esquilo, parecido com o da Polícia Militar. Alegaram que queriam um vôo panorâmico.
No ar, renderam o piloto Odailton de Oliveira Silva e desviaram a aeronave para a Penitenciária José Parada Neto, às margens da rodovia Ayrton Senna, em Guarulhos, na Grande São Paulo.
Esse presídio, considerado de segurança máxima, tem muralhas e alambrados ao redor e policiais armados na vigilância externa. Ontem, abrigava 960 detentos.
O percurso do Campo de Marte até o presídio deve ter durado três minutos, segundo a PM.
O helicóptero deu um rasante e desceu dentro do raio 1 -um dos três pavilhões do presídio, onde deveriam estar os detentos menos perigosos. É o único local onde havia uma quadra de futebol, com dimensões de 25 e 40 metros.
""Vi o helicóptero abaixando. Passou em cima de mim. Daí ouvi tiros e ele foi embora. É incrível uma ação dessa", afirmou o pai de um preso, que no momento do resgate estava no presídio.
Segundo a polícia, o helicóptero pousou protegido pelas paredes do prédio. Só na decolagem é que foi possível atirar.
""Não se tinha visão de tiro da torre [onde os policiais militares estavam] quando o helicóptero pousou", afirma o delegado Edson Silveira, 41, do 8º DP de Guarulhos, que visitou o local.

Rapidez
Dos quatro policiais que estavam nas muralhas, apenas dois atiraram contra os resgatadores, que não revidaram. Houve cinco tiros, segundo o tenente-coronel Paulo César Máximo, 49, comandante-interino do policiamento metropolitano. ""Foi tudo muito rápido, onde, talvez, a falta de melhor habilidade de tiros dos PMs fez com que não acertassem."
O coronel, depois de ouvir os policiais das muralhas, disse que o helicóptero se aproximou ""balançando", como se estivesse com uma pane. Silva foi libertado minutos mais tarde em um campo de futebol em Embu, na Grande São Paulo, depois de sobrevoar o pico do Jaraguá.
Os dois resgatadores e os detentos teriam fugido então em uma van tipo Sprinter. Ninguém foi preso.


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