São Paulo, sexta-feira, 18 de janeiro de 2002

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RESGATE AÉREO

Sequestradores deram indicações para que helicóptero chegasse ao local do pouso, um campo de futebol na periferia de Embu

"Não conseguia pensar direito", diz piloto

GABRIELA ATHIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Odailton de Oliveira Silva, 52, piloto do helicóptero que resgatou os dois presos da Penitenciária José Parada Neto, em Guarulhos, ficou o tempo todo que durou a ação com duas armas apontadas para sua cabeça.
O piloto decolou do aeroporto do Campo de Marte, na zona norte de São Paulo, às 12h52, para o que seria um vôo panorâmico pela capital com dois passageiros. Minutos depois, os passageiros -um sentado ao seu lado e outro atrás- sacaram as armas e mandaram que seguisse em direção a Guarulhos.
"Com duas armas apontadas para a sua cabeça, você não consegue pensar direito. Segui as orientações deles", relatou. A ordem era não olhar para os lados. Apenas para o painel de controle e para a frente.

Obstáculos
Quando o homem sentado à sua esquerda mandou que Oliveira pousasse, já no presídio, ele chegou a argumentar sobre a dificuldade de cumprir essa ordem, por causa da proximidade de dois prédios e da existência de um varal com roupas.
Tão logo a aeronave aterrissou, um dos presos que seriam resgatados correu em direção a eles e entrou no helicóptero. Quando já haviam decolado e estavam a cerca de dois metros do chão, apareceu outro preso, correndo. Os sequestradores, então, ordenaram que o piloto voltasse a descer.
Do presídio, os sequestradores mandaram que Oliveira seguisse em direção à rodovia Anhanguera, zona oeste da capital, e que contornasse o pico do Jaraguá, na mesma região.
Por conta da proibição de olhar para os lados e por estar voando muito baixo, o piloto disse ter perdido o senso de direção. Os sequestradores é que deram indicações até a chegada ao bairro de Santa Tereza, na periferia de Embu, na Grande São Paulo.
O pouso foi feito em um campo de futebol. Foi nesse momento que Oliveira pensou que seria morto. "Disse a eles que tinha mulher e filhas", conta. O grupo pediu então que ele desligasse o rádio da aeronave.
Os sequestradores e os presos foragidos saíram correndo em direção à parte alta do bairro, onde fica a avenida Rotary. Várias pessoas que moram perto do campo de futebol onde o helicóptero pousou relataram ter visto os quatro homens correndo, mas não souberam dizer se entraram em um automóvel. De acordo com a Polícia Militar, o grupo teria fugido em uma van.

Pane
O piloto ainda tentou levantar vôo, mas foi impedido por uma pane na bateria do helicóptero. Oliveira pediu informações sobre onde estava, pegou um táxi e voltou para o Campo de Marte.
Depois, teve de voltar a Embu para dar mais informações à delegacia local. Lá, ainda bastante nervoso, concedeu várias entrevistas.
Oliveira disse ter achado "estranho" quando a secretária da Táxi Aéreo Paradela, empresa em que trabalha, informou que ele faria um vôo panorâmico com apenas dois passageiros, quando o helicóptero tem lugar para mais três. O piloto, porém, não fez perguntas aos clientes e embarcou.
O piloto chegou ao Deic (Departamento Estadual de Investigações sobre Crime Organizado), que está centralizando as investigações sobre o caso, às 17h30 de ontem. Ele iria prestar depoimento e ajudar a preparar um retrato-falado dos dois homens que sequestraram o avião. Até as 23h, Oliveira continuava no local.


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