São Paulo, terça-feira, 18 de janeiro de 2005

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CONTROLE CANINO

Técnicos da área propõem a regulamentação do treinamento de animais como pit bulls e rottweilers

Adestrador defende licença para cão feroz

AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma "habilitação" para que os proprietários de cachorros ferozes possam conduzir seus animais em áreas públicas. Essa é a proposta defendida por Eduardo Gustavo Sprotte, 36, diretor da Associação Brasileira de Cinotécnicos (especialistas em cães) como solução para a discussão em torno do controle de animais como os pit bulls e os rottweilers.
Uma medida parecida é adotada na Inglaterra para a posse de alguns tipos de cães, como o fila brasileiro. Para possuir esses animais, é preciso um certificado especial e, em locais públicos, eles só podem ser conduzidos com focinheira e por maiores de 16 anos.
A polêmica sobre a posse responsável de cães voltou à tona no último final de semana, com a publicação de uma portaria que restringe o acesso de cachorros aos parques municipais de São Paulo. Pela nova lei, usuários acompanhados de cães sem guia e coleira não poderão entrar nos parques.
A restrição é mais severa para as raças mastim napolitano, pit bull, rottweiler e american staffordshire terrier, ou mestiços dessas raças, que só poderão ir aos parques conduzidos com uma guia curta, enforcador e focinheira.
A medida dividiu adestradores de cães ouvidos pela Folha, especialmente quanto ao prejuízo ou benefício do uso da focinheira pelos animais. O principal problema para eles é que a medida não atinge o centro do problema: a atual falta de regulamentação do mercado de adestramento.
"Hoje cada um adestra de um jeito. O governo precisaria intervir para impor regras", afirma o adestrador Adriano Salles, 39, que há 15 anos exerce a profissão.
"Como não existem parâmetros, a maioria dos donos não tem nenhuma orientação sobre o controle do cachorro", diz Sprotte.
Para ele, exigir que o dono do cão sempre coloque a focinheira mas não obrigá-lo a ter uma preparação específica para a condução de cães ferozes equivale a exigir de um motorista que ele use o cinto de segurança mas não obrigá-lo a freqüentar a auto-escola.
A ausência de critérios para o adestramento dificulta o combate aos maus profissionais e leva a casos em que a vida dos animais é colocada em risco. A adestradora Gisela Prochnow, do Centro de Adestramento Canino, cuida de dois pit bulls que passaram por uma experiência traumática. "A dona deles descobriu que o adestrador anterior dava sonífero para eles durante as aulas", afirma.
"Hoje não há nenhum certificado que diga se uma escola de adestramento é boa ou não. O jeito é o cliente se orientar pela indicação de outros clientes ou pelos troféus de campeonato que a entidade tem", afirma Fábio Cardoso de Paula, dono do canil Billber's.
Além disso, existe a crença -perigosa- de que o próprio dono pode adestrar o animal. Na internet, há kits para adestramento por cerca de R$ 20, enquanto o treinamento básico ministrado em canis costuma durar até seis meses e custar até R$ 450 por mês.
"É muito fácil falar que o cão é adestrado, comprar uma fita de vídeo e ensinar o cachorro a levantar a pata e sentar. Isso é showzinho. Mas ele não consegue segurar o cachorro quando ele resolver atacar", afirma Prochnow.
Os adestradores questionaram o uso da focinheira nos parques públicos. Como os cachorros transpiram pela língua, o uso do equipamento pode tanto deixar os animais mais nervosos como gerar problemas de saúde.
"Sou contra e a favor do uso da focinheira. Contra pelo mal-estar que causa no animal. Mas a favor porque imagine uma pessoa de 50 kg conduzindo um rottweiler, que pesa 70 kg. Ela não consegue controlar o animal", afirma Salles.
Na última semana, foram registrados pelos menos três ataques de cães com conseqüências graves. Em Santa Catarina, um menino de um ano e meio morreu após ser atacado pelo cachorro do vizinho. Em São Paulo, uma mulher de 88 anos e um menino de 10, vítimas de pit bulls, morreram.


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