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CONTROLE CANINO
Técnicos da área propõem a regulamentação do treinamento de animais como pit bulls e rottweilers
Adestrador defende licença para cão feroz
AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma "habilitação" para que os
proprietários de cachorros ferozes possam conduzir seus animais
em áreas públicas. Essa é a proposta defendida por Eduardo
Gustavo Sprotte, 36, diretor da
Associação Brasileira de Cinotécnicos (especialistas em cães) como solução para a discussão em
torno do controle de animais como os pit bulls e os rottweilers.
Uma medida parecida é adotada na Inglaterra para a posse de
alguns tipos de cães, como o fila
brasileiro. Para possuir esses animais, é preciso um certificado especial e, em locais públicos, eles só
podem ser conduzidos com focinheira e por maiores de 16 anos.
A polêmica sobre a posse responsável de cães voltou à tona no
último final de semana, com a publicação de uma portaria que restringe o acesso de cachorros aos
parques municipais de São Paulo.
Pela nova lei, usuários acompanhados de cães sem guia e coleira
não poderão entrar nos parques.
A restrição é mais severa para as
raças mastim napolitano, pit bull,
rottweiler e american staffordshire terrier, ou mestiços dessas raças, que só poderão ir aos parques
conduzidos com uma guia curta,
enforcador e focinheira.
A medida dividiu adestradores
de cães ouvidos pela Folha, especialmente quanto ao prejuízo ou
benefício do uso da focinheira pelos animais. O principal problema
para eles é que a medida não atinge o centro do problema: a atual
falta de regulamentação do mercado de adestramento.
"Hoje cada um adestra de um
jeito. O governo precisaria intervir para impor regras", afirma o
adestrador Adriano Salles, 39, que
há 15 anos exerce a profissão.
"Como não existem parâmetros, a maioria dos donos não tem
nenhuma orientação sobre o controle do cachorro", diz Sprotte.
Para ele, exigir que o dono do
cão sempre coloque a focinheira
mas não obrigá-lo a ter uma preparação específica para a condução de cães ferozes equivale a exigir de um motorista que ele use o
cinto de segurança mas não obrigá-lo a freqüentar a auto-escola.
A ausência de critérios para o
adestramento dificulta o combate
aos maus profissionais e leva a casos em que a vida dos animais é
colocada em risco. A adestradora
Gisela Prochnow, do Centro de
Adestramento Canino, cuida de
dois pit bulls que passaram por
uma experiência traumática. "A
dona deles descobriu que o adestrador anterior dava sonífero para
eles durante as aulas", afirma.
"Hoje não há nenhum certificado que diga se uma escola de
adestramento é boa ou não. O jeito é o cliente se orientar pela indicação de outros clientes ou pelos
troféus de campeonato que a entidade tem", afirma Fábio Cardoso
de Paula, dono do canil Billber's.
Além disso, existe a crença
-perigosa- de que o próprio
dono pode adestrar o animal. Na
internet, há kits para adestramento por cerca de R$ 20, enquanto o
treinamento básico ministrado
em canis costuma durar até seis
meses e custar até R$ 450 por mês.
"É muito fácil falar que o cão é
adestrado, comprar uma fita de
vídeo e ensinar o cachorro a levantar a pata e sentar. Isso é showzinho. Mas ele não consegue segurar o cachorro quando ele resolver atacar", afirma Prochnow.
Os adestradores questionaram
o uso da focinheira nos parques
públicos. Como os cachorros
transpiram pela língua, o uso do
equipamento pode tanto deixar
os animais mais nervosos como
gerar problemas de saúde.
"Sou contra e a favor do uso da
focinheira. Contra pelo mal-estar
que causa no animal. Mas a favor
porque imagine uma pessoa de 50
kg conduzindo um rottweiler, que
pesa 70 kg. Ela não consegue controlar o animal", afirma Salles.
Na última semana, foram registrados pelos menos três ataques
de cães com conseqüências graves. Em Santa Catarina, um menino de um ano e meio morreu após
ser atacado pelo cachorro do vizinho. Em São Paulo, uma mulher
de 88 anos e um menino de 10, vítimas de pit bulls, morreram.
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