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Denúncia de morte vira encontro de corpo
DA REPORTAGEM LOCAL
A denúncia anônima já indicava o tipo de crime. Um homem
havia sido assassinado e enterrado durante a madrugada, disse
uma voz feminina, que ainda informou à polícia o local onde o
corpo poderia ser encontrado.
Com enxadas, policiais localizaram o corpo do ajudante-geral
Luiz Carlos Norato da Silva, 20.
Ele estava enterrado em uma cova
rasa em um terreno baldio atrás
de uma escola, entre uma árvore
uma grande pedra, como a denunciante havia descrito.
O corpo "apresentava um hematoma na cabeça", segundo relato dos policiais que foram ao local escrito no boletim de ocorrência. Mesmo assim, a natureza registrada foi encontro de cadáver.
Esse é um dos 14 casos apontados
ontem pela Folha.
S., 45, citado no boletim como
testemunha, disse que estava nos
fundos de casa quando viu passarem os policiais. Eles perguntaram se S. tinha visto algo estranho
durante a madrugada porque haviam recebido uma denúncia de
que um homem tinha sido morto
e enterrado naquele local.
O corpo foi encontrado por volta das 15h, no dia 24 de maio de
2004, em Mauá (Grande São Paulo). S. disse à reportagem que o local onde o corpo foi encontrado é
conhecido por ser usado por traficantes para assassinar desafetos.
Tiros na nuca
Segundo laudo Instituto Médico
Legal, a vítima recebeu dois tiros
na nuca. "Ele foi agredido, e muito", afirma a dona-de-casa Maria
Matilde Florêncio Norato, 57,
mãe da vítima.
A família só soube da morte dias
depois. No IML, parentes dizem
que perceberam muitos hematomas pelo corpo. "Desde o início
falaram que ele tinha sido executado. Estava visível", afirmou o vigilante José Aparecido Florêncio
Norato, 35, irmão da vítima.
Em relação a esse caso, a Secretaria da Segurança Pública negou
irregularidades. "No momento
do registro, o fato ocorrido foi um
encontro de cadáver, tipificação
considerada para efeitos de estatística, porém, a investigação teve
continuidade e descobriu-se, com
base em laudos técnicos, que havia um ferimento na cabeça, definido então a tipificação para homicídio", afirma a nota.
Litoral
Em São Sebastião (litoral norte),
em outro dos 14 casos citados,
dois homens encapuzados entraram em uma casa e mataram com
vários tiros o ajudante Cledilson
de Castro Breves, conhecido como Dilsinho, 25, na madrugada
do dia 9 de novembro de 2004. O
caso foi registrado de forma inusitada com duas naturezas: morte a
esclarecer/homicídio. O registro
"homicídio" foi escrito à máquina
depois da elaboração do boletim.
Dilsinho foi morto na casa de
parentes, que pediram para não
serem identificados. Por volta da
1h, segundo informações do boletim, dois homens bateram na porta da casa, entraram e foram até o
quarto onde o rapaz dormia.
"Entraram na casa e o mataram.
O Dilsinho ainda tentou se esconder embaixo da cama. O meu filho, de dois anos, viu tudo", contou Cláudio (nome fictício), parente da vítima.
Ele disse que foi até o plantão da
Delegacia Seccional de São Sebastião registrar o caso, mas não ficou com uma cópia do boletim.
Ao saber que o caso havia sido registrado como morte a esclarecer,
ficou surpreso. "Não sei por que
fizeram isso. Só sei que mataram
o Dilsinho na minha casa", afirmou Cláudio.
A Secretaria da Segurança Pública informou que o caso foi registrado como homicídio "conforme consta no boletim de ocorrência escrito à máquina. E contabilizado na estatística como crime
de homicídio pela Seccional de
São Sebastião". Não explicou, porém, por que duas naturezas do
crime foram registradas.
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