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CRIME ORGANIZADO
Relatório do Judiciário aponta atuação do Comando Vermelho em presídios na Região Metropolitana de Vitória
Espírito Santo é novo alvo de facções do Rio
SILVIO NAVARRO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM VITÓRIA
Distante pouco mais de 500 km
da cidade do Rio de Janeiro, a área
metropolitana de Vitória (ES)
abriga um braço do narcotráfico
fluminense. A presença nos morros capixabas de integrantes de
facções e quadrilhas ligadas ao
tráfico no Rio já foi detectada pelos serviços de inteligência da Polícia Militar e da Polícia Civil.
Na quinta-feira, 20 homens armados invadiram os becos do
bairro da Penha, em Vitória, numa disputa por pontos-de-venda
de drogas. A caçada terminou
com três traficantes mortos e dois
gravemente feridos.
O comércio fechou as portas. À
noite, houve troca de tiros com a
polícia. Para investigadores do
DHPP (Divisão de Homicídios e
Proteção à Pessoa), foi uma tentativa de tomada das "bocas-de-fumo" por traficantes do Rio.
Há cerca de 50 dias, a polícia
vinculou a onda de violência, cujo
ápice foi o incêndio de dez ônibus
em diferentes pontos da região
metropolitana, a integrantes da
facção criminosa CV (Comando
Vermelho) presos no Estado. A
ordem para os atentados, segundo conclusão da polícia, viera de
dentro dos presídios capixabas,
onde surgem subfacções que se
identificam com o grupo do Rio.
"Temos vários internos no Espírito Santo que são presos do Rio
de Janeiro. Vieram de lá por assalto a banco e por ações no tráfico e
cumprem penas aqui. Há internos que eram instrutores do pessoal do CV. São ex-fuzileiros navais que davam instrução de uso
de armamento pesado para membros do CV no Rio", afirma o juiz
da 5ª Vara de Execuções Penais,
Carlos Eduardo Ribeiro Lemos,
que elaborou um relatório após
inspeção nos presídios da Grande
Vitória. O documento, ao qual a
Folha teve acesso, foi encaminhado ao governador Paulo Hartung
(sem partido) e ao Ministério Público Estadual.
No ano passado, a polícia encontrou ainda uma granada num
morro capixaba com a inscrição
"CV". Do lado de fora dos presídios, outra constatação feita pela
polícia aproxima o tráfico de drogas fluminense e capixaba. Há
uma relação de proteção aos traficantes, que pagam carros de som
para eventos religiosos, compram
remédios e suprem necessidades
da população carente como nos
morros do Rio.
O secretário da Segurança, Rodney Miranda, admite a ação de
traficantes cariocas na Grande Vitória, mas afirma ser "prematuro
dizer que o CV atua no Estado".
"Aqui o tráfico não tem xerife, e
os [mentores] que havia mandamos para fora do Estado depois
do atentado contra os ônibus."
Ainda de acordo com o secretário, tentou-se criar um braço do
CV no Espírito Santo com a formação de uma facção denominada Primeiro Comando Guaranhuns (nome de um bairro do
município de Serra).
O líder do grupo, que, segundo
a polícia, fazia parte da lista de
mandantes dos atentados contra
os ônibus, Fernando Cabeção, foi
transferido para o Nordeste.
O traficante foi um dos envolvidos na morte do juiz Alexandre
Martins de Castro Filho, que atuava no combate ao tráfico de drogas, em 2003.
O secretário da Justiça, Fernando Zardini, diz que a ação do narcotráfico capixaba "guarda uma
relação no formato" com a do
Rio. A diferença, para o titular da
Segurança, "é que (no Espírito
Santo) não há lugar, não há morro, onde a polícia não entra".
Reforço na segurança
O secretário da Justiça admite
que o "embrião dessas atividades" esteja no interior dos presídios, mas afirma que o Estado intensificou as obras de reforço da
segurança no setor penitenciário.
"Não vejo riscos de uma nova
onda de violência como aquela
[atentados a ônibus, em novembro de 2004]. Houve ações do governo estadual e federal para não
acontecer como no Rio. O momento é de estabilidade", afirmou
o secretário.
O secretário da Segurança afirma que o Estado investiu nos segmentos de polícia técnica e científica e pretende criar neste ano um
grupo especial para "intervir nesse tipo de crise".
Para o promotor Marcelo Lemos, coordenador do GRCO
(Grupo de Repressão ao Crime
Organizado), o Estado não tem
estrutura para a condução de investigações sobre o narcotráfico.
Também disputam espaço no
comércio de drogas no Espírito
Santo traficantes que vêm de Minas Gerais e do sul do Bahia. Para
o secretário da Segurança capixaba, "o narcotráfico não tem fronteiras. Há alguém fornecendo em
atacado, porque o Estado não é
produtor de entorpecentes".
Levantamento
Os secretários da Segurança e da
Justiça afirmaram que as duas
pastas elaboram em conjunto um
levantamento sobre a atuação dos
grupos e quadrilhas dentro e fora
dos presídios da região.
O mapeamento, segundo Miranda, deverá estar pronto em fevereiro. Um dos fatores que dificulta o trabalho é o cadastro obsoleto dos presos. Boa parte dos
prontuários não tem fotos e apresenta dados incompletos.
No trabalho de mapeamento, a
Secretaria da Segurança aponta
dois bairros emblemáticos de Vitória -São Pedro e Ilha do Príncipe-, onde a maioria dos homicídios está diretamente relacionada ao narcotráfico.
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