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Celular ainda é "arma" em cadeia paulista
Um ano após a megarrebelião no Estado, governo não conseguiu impedir acesso de presos a aparelho que serviu para organizar revolta
ALESSANDRO SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL
A maior rebelião de presos da
história do país completa um ano
hoje sem que os governos federal
e estadual tenham conseguido
criar mecanismos eficientes para
impedir o uso nas prisões da "arma" que garantiu o sucesso da
mobilização: o telefone celular.
Passava do meio-dia naquele
domingo -18 de fevereiro-
quando começaram a estourar os
primeiros focos de motins em São
Paulo, principalmente no Carandiru, zona norte da capital.
Perplexidade é o que se viu no
discurso das autoridades diante
do primeiro ato público do PCC
(Primeiro Comando da Capital),
a facção de presos que controla
grande parte das cadeias e cujo
poder, até aquele momento, era
depreciado oficialmente.
Cerca de 28 mil presos -quase
a metade dos condenados do Estado-, em 29 prisões diferentes,
participaram do levante que terminou com 16 mortos. Ao menos
10 mil foram feitos reféns.
"Jamais teriam feito a megarrebelião sem os celulares", afirma o
promotor Márcio Sérgio Christino, do Serviço Auxiliar de Investigação do Ministério Público de
São Paulo, que participa de investigações sobre o PCC.
A descoberta das centrais telefônicas do PCC, depois, revelou a
arma da facção: com celulares
pré-pagos, vendidos sem o cadastro dos donos, os detentos falavam com bases de telefonia fixa,
podendo conversar entre si, como
empregados de uma mesma empresa fazem por ramais internos.
Desse modo, integrantes do
PCC presos e soltos, segundo
grampos telefônicos da polícia,
negociam drogas e armas e planejam assaltos e sequestros.
Da rebelião para cá, 28 bases
desse tipo foram descobertas no
Estado, as duas últimas na semana passada. "Qualquer coisa que
não leve ao bloqueio de celulares é
um paliativo", diz o promotor.
No início deste mês, 11 após a
megarrebelião, São Paulo recomeçou bateria de testes com bloqueadores de celular em uma prisão, em conjunto com outros Estados, como Minas Gerais. A Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) precisa certificar fabricantes dos equipamentos, todos estrangeiros, para que os Estados possam comprá-los. "Espero ter o certificado em no máximo
dois meses", diz o secretário da
Administração Penitenciária de
São Paulo, Nagashi Furukawa.
Enquanto o bloqueio definitivo
não é feito, Furukawa tenta isolar
as principais lideranças do PCC
em outros Estados e em presídios
especiais, no interior.
As transferências desarticulam
a facção, mas também não resolvem o problema, segundo o advogado Luiz Flávio Borges D'Urso,
membro do Conselho Nacional
de Segurança, ligado ao Ministério da Justiça. "Desarticular não
significa acabar com o PCC. É
preciso fazer mudanças na estrutura prisional do país, combater a
corrupção e acabar com a superlotação, por exemplo."
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