São Paulo, segunda-feira, 18 de fevereiro de 2002

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Celular ainda é "arma" em cadeia paulista

Um ano após a megarrebelião no Estado, governo não conseguiu impedir acesso de presos a aparelho que serviu para organizar revolta

ALESSANDRO SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL

A maior rebelião de presos da história do país completa um ano hoje sem que os governos federal e estadual tenham conseguido criar mecanismos eficientes para impedir o uso nas prisões da "arma" que garantiu o sucesso da mobilização: o telefone celular.
Passava do meio-dia naquele domingo -18 de fevereiro- quando começaram a estourar os primeiros focos de motins em São Paulo, principalmente no Carandiru, zona norte da capital.
Perplexidade é o que se viu no discurso das autoridades diante do primeiro ato público do PCC (Primeiro Comando da Capital), a facção de presos que controla grande parte das cadeias e cujo poder, até aquele momento, era depreciado oficialmente.
Cerca de 28 mil presos -quase a metade dos condenados do Estado-, em 29 prisões diferentes, participaram do levante que terminou com 16 mortos. Ao menos 10 mil foram feitos reféns.
"Jamais teriam feito a megarrebelião sem os celulares", afirma o promotor Márcio Sérgio Christino, do Serviço Auxiliar de Investigação do Ministério Público de São Paulo, que participa de investigações sobre o PCC.
A descoberta das centrais telefônicas do PCC, depois, revelou a arma da facção: com celulares pré-pagos, vendidos sem o cadastro dos donos, os detentos falavam com bases de telefonia fixa, podendo conversar entre si, como empregados de uma mesma empresa fazem por ramais internos.
Desse modo, integrantes do PCC presos e soltos, segundo grampos telefônicos da polícia, negociam drogas e armas e planejam assaltos e sequestros.
Da rebelião para cá, 28 bases desse tipo foram descobertas no Estado, as duas últimas na semana passada. "Qualquer coisa que não leve ao bloqueio de celulares é um paliativo", diz o promotor.
No início deste mês, 11 após a megarrebelião, São Paulo recomeçou bateria de testes com bloqueadores de celular em uma prisão, em conjunto com outros Estados, como Minas Gerais. A Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) precisa certificar fabricantes dos equipamentos, todos estrangeiros, para que os Estados possam comprá-los. "Espero ter o certificado em no máximo dois meses", diz o secretário da Administração Penitenciária de São Paulo, Nagashi Furukawa.
Enquanto o bloqueio definitivo não é feito, Furukawa tenta isolar as principais lideranças do PCC em outros Estados e em presídios especiais, no interior.
As transferências desarticulam a facção, mas também não resolvem o problema, segundo o advogado Luiz Flávio Borges D'Urso, membro do Conselho Nacional de Segurança, ligado ao Ministério da Justiça. "Desarticular não significa acabar com o PCC. É preciso fazer mudanças na estrutura prisional do país, combater a corrupção e acabar com a superlotação, por exemplo."



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