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São Paulo, terça-feira, 18 de fevereiro de 2003

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VIOLÊNCIA

O Gringo, como a quadrilha o chama, usa seis nomes falsos e é argentino ou uruguaio, segundo a polícia de SP

Sequestrador de Bertin tem parceiro latino

ALESSANDRO SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL

A maior quadrilha de sequestradores descoberta no país, liderada por Pedro Ciechanovicz, 48, tinha um participante estrangeiro: um homem que pode ser argentino ou uruguaio, integrou ou ainda faz parte de organização guerrilheira, é apontado como mentor e negociador do grupo.
Na estrutura de ""células" identificada pela polícia, ele estaria na mesma linha de comando de Ciechanovicz, conhecido como Tio, preso na semana passada e acusado de oito sequestros, entre eles o do fazendeiro João Bertin, 82, patriarca da família que controla a rede de frigoríficos Bertin.
A foto de Gringo, como o estrangeiro é chamado no grupo, foi divulgada ontem pela Polícia Civil, que agora espera receber ligações anônimas que levem à sua identificação. ""Ele usa seis nomes falsos", disse o delegado Everardo Tanganelli Júnior, do Denarc (Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos).
Não é a primeira vez que um estrangeiro surge em investigações de sequestros no Brasil. Na década de 80, um grupo manteve em cativeiro o empresário Abílio Diniz (Pão de Açúcar), sob a justificativa de arrecadar fundos para financiar ações na América Latina.
Em 2001, o publicitário Washington Olivetto foi sequestrado por integrantes dos grupos chilenos de extrema esquerda Frente Patriótica Manuel Rodríguez (FPMR) e Movimento de Esquerda Revolucionária (MIR), liderados pelo chileno Mauricio Hernández Norambuena, condenado a prisão perpétua em seu país.
""Não sabíamos o papel de Gringo até agora. A idéia que temos é que ele pode ser ou ter sido de guerrilha", afirmou o delegado Ivaney Cayres de Souza, diretor do Denarc. Segundo ele, Ciechanovicz aprendeu na cadeia, com sequestradores de Diniz, como estruturar células de ação.
A polícia desconfiava da participação de um estrangeiro desde o sequestro da estudante Natasha Ometto, em abril do ano passado, no interior de São Paulo. O negociador tinha sotaque espanhol, segundo gravações telefônicas.
No sequestro do empresário Roberto Benito Júnior, das Lojas Cem, na região de Sorocaba, outro indício: cartas que os sequestradores mandaram à família tinham erros de português, misturando expressões em espanhol.
Na semana passada, a polícia descobriu que Gringo esteve preso no país, mas foi resgatado sem que antes identificassem seu verdadeiro nome e nacionalidade.
O caso aconteceu em setembro de 99. Gringo e outro membro da quadrilha, Altair Rocha de Lima, hoje foragido, foram presos após uma tentativa frustrada de roubo de carro em São Roque (59 km de SP). Ambos usavam nomes falsos -Jairo dos Santos e Rogério Aparecido da Silva, respectivamente. Dias depois, seis homens armados com fuzis e metralhadoras retiraram os dois da cadeia de Mairinque (66 km da capital).
Em depoimento, o sequestrador Ciechanovicz disse apenas que Gringo é chileno.
Ontem, o Denarc informou que irá enviar a foto dele às polícias da Argentina e do Uruguai, para tentar descobrir seu verdadeiro nome e quais ligações dele com organizações terroristas. Informações sobre o Gringo podem ser passadas à polícia, sem a necessidade de se identificar, pelo disque-denúncia: 0800-111718.


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