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TRAGÉDIA ANUNCIADA
Disparos ocorreram depois de agente, que tentava prender líder da invasão, ser agredido em Goiânia
Policial dá 5 tiros em velório de sem-teto
SEBASTIÃO MONTALVÃO
COLABORAÇÃO PARA A AGÊNCIA FOLHA, EM GOIÂNIA
O confronto entre policiais e
sem-teto em Goiânia (GO) migrou ontem para o velório das
duas pessoas mortas durante a
Operação Triunfo, organizada
para promover a reintegração de
posse de um terreno invadido em
uma área valorizada da cidade.
Policiais civis à paisana tentavam prender no velório um dos líderes da invasão do Parque Oeste
Industrial. Na confusão, um dos
policiais foi agredido. Um outro,
então, sacou sua pistola e deu cinco tiros para o alto. Mais tarde, a
Polícia Civil considerou que a
ação foi um "erro de estratégia".
O clima no velório era de revolta. Desde a madrugada, centenas
de moradores se aglomeravam no
pátio e no interior da catedral, onde foram velados os corpos do comerciário Pedro Nascimento Silva, 24, e do gesseiro Wagner da
Silva Moreira, 21.
Homens, mulheres e crianças
ainda se mostravam muito abalados com o resultado trágico da
operação de reintegração. A viúva
de Pedro Nascimento, Eronilde
da Silva Nascimento, 27, disse
querer esquecer as cenas do confronto. "Não gosto nem de lembrar. Foi horrível. Vi muita gente
ferida e me perdi do meu marido.
Só fui saber que ele estava morto
no início da noite. Soube depois
que os policiais o amarraram e o
deixaram jogado."
Após o enterro dos dois jovens,
as cerca de 450 pessoas que foram
ao cemitério se deram as mãos, fizeram um enorme círculo e gritaram, em voz alta, que o sonho não
havia acabado.
"O Sonho Real continua. Não
vamos nos render." Sonho Real
foi o nome dado pelos sem-teto
ao loteamento invadido por cerca
de 4.000 famílias. A área, de 868
mil metros quadrados.
Foi colocada uma faixa que pedia ajuda à ONU: "SOS ONU/Refugiados Brasil-Goiânia".
Sirenes
Ainda na madrugada, enquanto
aguardavam a chegada dos corpos à catedral metropolitana, no
centro de Goiânia, carros da Polícia Militar rondavam a região,
com sirenes ligadas.
Um grupo de invasores também se deslocou até as imediações do Palácio das Esmeraldas,
sede do governo estadual, para
protestar. A PM já estava fazendo
a segurança no local e não houve
maiores transtornos.
Os disparos no velório ocorreram por volta das 15h, um pouco
antes do cortejo fúnebre. De acordo com o delegado da Polícia Civil
Carlos Teixeira, os agentes teriam
se deslocado até o local para cumprir um mandado de prisão contra Paulo Sérgio Alves, um dos líderes da invasão.
Para a vendedora ambulante
Joana Darc dos Santos, a ação foi
uma tragédia. "Faltou respeito
com os familiares dos mortos,
com a comunidade e até com
Deus. Se não respeitam a casa de
Deus, vão respeitar o quê? Isso
não é coisa de ser humano."
A advogada dos sem-teto, Marilda Ribeiro Fonseca, pediu na
Justiça liminar (decisão provisória) para suspender a derrubada
das casas. O governador tucano
Marconi Perillo disse que o Estado e a prefeitura de Iris Resende
(PMDB) vão adquirir uma nova
área para assentar as famílias.
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