São Paulo, sexta-feira, 18 de fevereiro de 2005

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Movimento diz haver invasores desaparecidos

DA AGÊNCIA FOLHA

COLABORAÇÃO PARA A AGÊNCIA FOLHA, EM GOIÂNIA

O Ministério Público goiano investiga se há desaparecidos desde a reintegração de posse, anteontem, como afirmam os sem-teto.
A procuradora-geral de Justiça de Goiás, Laura Bueno, ordenou que promotores e peritos checassem no local a suspeita de que invasores foram mortos e tiveram os corpos jogados em cisternas. O secretário da Segurança Pública e Justiça de Goiás, Jônathas Silva, negou. A busca foi suspensa às 21h30. Foram cavadas três cisternas, e nada foi achado.
O Movimento Terra, Trabalho e Liberdade divulgou lista ontem com 32 nomes de desaparecidos, além de um idoso, sem identificação.
Para o delegado Waldir Soares, muitos podem ter fugido para não serem presos. Ao menos 20 têm mandado de prisão decretado.
O uso excessivo de força pelos PMs voltou a ser citado ontem no velório. "A polícia já maltratou muito. Podia nos deixar em paz", dizia a dona-de-casa Teresa Cavalcante, 48, sobre a vigilância perto da catedral. Ao lado, a filha Kátia Regina Cavalcante, 19, mostrava sinais no braço. "Bateram, xingaram. Disseram que iriam me matar. Foi horrível."
A costureira Lélia Costa disse que viu Pedro Nascimento, um dos mortos, amarrado. "Não fazia sentido tê-lo amarrado depois de morto. Foi uma covardia."
A namorada de Wagner Moreira, o outro morto, Lucileide Evangelista, 25, estava na invasão, mas não viu a ação. "Ele tinha ido buscar o tio. Saímos correndo e ficamos na esperança de que tivesse saído por outro lugar."
O mecânico Reginaldo da Silva Mendes, 23, tio de Moreira, estava ao lado do sobrinho quando ele foi morto. "Foram dois [tiros]. Um pelas costas, quando já estava deitado. Depois, o policial o pegou pela camisa, levantou, encostou a arma no peito dele e atirou novamente."
A mulher do mecânico, Maria Célia do Nascimento Mendes, 38, também estava no local com dois filhos pequenos. "Ele já estava rendido, com a mão na cabeça."
Dalvina Mendes da Silva França, mãe do rapaz, foi até o cemitério no carro funerário. "Ele era tudo pra mim. Não acredito que o Brasil e o mundo taparão os olhos para uma barbaridade dessas."


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