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LEGALIZAÇÃO EM DEBATE
Alternativa é dar assento a Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil em grupo temático
Governo tira CNBB de discussão sobre aborto
LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A CNBB (Conferência Nacional
dos Bispos do Brasil) foi excluída
do Grupo de Trabalho da Descriminalização do Aborto, anunciado pelo governo Luiz Inácio Lula
da Silva no final de 2004.
Em tensa reunião anteontem, o
Conselho Nacional de Políticas
para Mulheres escolheu os outros
participantes, só que não definiu
se haverá representação religiosa
para a formulação da proposta.
O governo sugeriu que o Conic
(Conselho Nacional de Igrejas
Cristãs do Brasil, que inclui a católica) tomasse assento no grupo,
mas até ontem a resistência do
conselho havia criado um impasse sobre a indicação.
O objetivo do governo é manter
a discussão em nível técnico, focado em saúde pública e direitos humanos da mulher. Seus representantes são majoritariamente a favor da descriminalização do
aborto, que hoje dá de um a três
anos de detenção. O grupo será
oficializado em portaria na próxima semana e terá 60 dias para finalizar uma proposta.
O conselho é um órgão deliberativo da Secretaria Especial de
Políticas para Mulheres e tem 35
integrantes (veja quadro).
Para o parecer médico, foi escolhida a Febrasgo (Federação das
Associações de Ginecologia e
Obstetrícia). Mas a confusão começou na hora de definir se haveria um representante religioso.
A reunião, que durou sete horas, acabou sendo encerrada sem
a votação deste item porque a
maioria do conselho defende a tese de que como o Estado é laico,
não há necessidade de opinião religiosa. A ministra Nilcéia Freire
(Políticas para Mulheres) não encontrou respaldo para a indicação
do Conic. Com isso, a posição antiaborto da CNBB poderia ser
amenizada no debate.
Cerca de um milhão de abortos
são realizados a cada ano no Brasil, de acordo com estimativa baseada no número de curetagens
pós-aborto realizadas pelo SUS.
A reportagem ouviu as quatro
conselheiras que representarão a
sociedade civil no grupo. Todas
descordaram da participação de
entidade religiosa na comissão,
por entender que entidades religiosas serão ouvidas em audiências e poderão se manifestar ativamente quando uma proposta final for enviada ao Congresso.
Segundo Schuma Schumaher,
da AMB (Associação de Mulheres
do Brasil), o questionamento centralizado no aborto e no direito à
vida é equivocado, já que o cerne
dos trabalhos está no papel e nos
direitos das mulheres.
A Igreja Católica sustenta que o
direito à vida do feto se sobrepõe
aos chamados direitos sexuais e
reprodutivos.
"A revisão da legislação punitiva não tem nada a ver com a livre
expressão religiosa, que é independente e trata de valores. A descriminalização não obriga nem
desobriga qualquer mulher", disse Lia Zanotta, da Rede Feminista
de Saúde.
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