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ARTIGO
Lições de criminalidade estúpida
WALTER CENEVIVA
COLUNISTA DA FOLHA
Para decodificar o significado
da execução do juiz Antonio José
Machado Dias, corregedor do
presídio em que está recolhido o
traficante Beira-Mar, é necessário, em primeiro lugar, confirmar
o seu vínculo com o crime organizado. A prisão dos responsáveis
diretos e dos mandantes não basta. É imprescindível, mais que o
falado agravamento das penas, a
comprovação breve de autoria e
motivação, para que o processo
-passado o momento de escândalo- não caia na vala comum
da lentidão, afogando no ridículo
as proclamações recentes do Executivo paulista quanto ao aprimoramento da qualidade policial.
Confirmado o vínculo, a primeira decodificação é óbvia: a sociedade exige o enfrentamento do
aviso-desafio da delinquência. Esta não pode derrotar a administração dos interesses coletivos. A
morte do juiz Falcone, na Itália,
pela Máfia, galvanizou a opinião
pública e empurrou a emperrada
máquina administrativa para a
apuração e a condenação de muitos mafiosos. O caso Falcone também ofereceu exemplo a ser evitado. Os "heróis-da-mídia", do Ministério Público, da polícia e da
Magistratura logo apareceram.
Disputaram câmeras da televisão
e manchetes, em "declaracionismo" desenfreado. A apuração escandalosa, mas insuficiente, não
resultou em grande número de
condenações. O crime acabou favorecido.
O desafio está posto: menos
manchetes e mais eficiência. Eficiência na apuração, na denúncia
substanciosa do Ministério Público, na produção rápida, mas qualificada das provas em juízo, no
sentenciamento que distinga inocentes e puna culpados. É o momento de união pelo objetivo social de ver a identificação e a condenação dos culpados, sem sacrifício do direito de defesa. A ousadia selvagem do crime deve ser
respondida com a ousadia competente e rápida do Executivo e do
Judiciário. O crime organizado
precisa aprender que matar um
magistrado ofende gravemente
toda a sociedade e até o direito
dos criminosos, garantidos que
são pelo cuidado do juiz, na orientação do processo. A morte de
Machado Dias, em Presidente
Prudente, impressiona tanto pela
covardia cruel quanto pela estupidez de seus autores.
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