São Paulo, segunda-feira, 18 de abril de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

A FAVOR

"Só quero que ele não sofra"

DA REPORTAGEM LOCAL

Numa manhã de dezembro de 1999, o consultor de vendas Giovanino Mascaro, na época com 45 anos, sofreu um infarto, com três sucessivas paradas cardíacas.
Sem oxigenação no cérebro, entrou em coma, ficou 60 dias na UTI e mais três meses no hospital.
Em junho de 2000, em estado vegetativo, teve alta. Ficou alguns meses em casa, assistido pela mulher, Milena Bonato, e por duas enfermeiras. Com dois filhos adolescentes, Milena precisou voltar a trabalhar e internou o marido em uma clínica particular. Hoje, defende o direito de poder autorizar a realização da eutanásia nele. A seguir, seu depoimento. (CC)

"É difícil aceitar o estado do meu marido. Os médicos já cansaram de me dizer: "Não se iluda pensando que ele te olha. Para ele, você e uma porta são a mesma coisa". No início, eu tinha esperança de alguma recuperação, mas agora só quero que ele não sofra e que eu possa voltar a viver.
Tenho certeza de que, se ele pudesse escolher, não gostaria de continuar vivendo assim. No início, estava ligado a respirador artificial e tinha sonda nasal. Nas duas primeiras tentativas de retirar o respirador, o coração dele parou e tivemos que religar imediatamente. O médico então me perguntou o que deveria fazer caso, em uma terceira tentativa de retirada, o coração parasse novamente. Decidimos então que não religaríamos. Mas o incrível aconteceu: após a retirada do aparelho, o coração continuou batendo normalmente.
Depois de um longo trabalho dos fisiatras, ele também consegue engolir sem a sonda nasal. Tudo isso custa muito dinheiro.
A aposentadoria dele por invalidez é de R$ 1.300, mas só de clínica eu pago R$ 1.500. Trabalho feito louca o mês todo. Não tenho apoio financeiro de ninguém. O governo não ajuda em nada. Minha vida parou em dezembro de 1999, aos 34 anos e com dois filhos adolescentes.
Mas, ao longo desses anos, estou conseguindo ser mais racional. Não me importo mais com as críticas que recebo por defender a eutanásia. Já recebi vários telefonemas de pessoas que me xingam de assassina. Mas ninguém está aqui para saber o que eu passo. Minha filha [de 20 anos] diz que entende a minha posição, mas não concordaria com algum ato que apressasse a morte do pai. Eu respeito a opinião dela. Hoje, não há o que fazer, a não ser esperar."

Texto Anterior: Contra: "Pai e mãe jamais fariam isso"
Próximo Texto: Panorâmica - Animal: Gaúchos condenam morte brutal de cachorra
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.