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A FAVOR
"Só quero que ele não sofra"
DA REPORTAGEM LOCAL
Numa manhã de dezembro de
1999, o consultor de vendas Giovanino Mascaro, na época com 45
anos, sofreu um infarto, com três
sucessivas paradas cardíacas.
Sem oxigenação no cérebro, entrou em coma, ficou 60 dias na
UTI e mais três meses no hospital.
Em junho de 2000, em estado
vegetativo, teve alta. Ficou alguns
meses em casa, assistido pela mulher, Milena Bonato, e por duas
enfermeiras. Com dois filhos adolescentes, Milena precisou voltar a
trabalhar e internou o marido em
uma clínica particular. Hoje, defende o direito de poder autorizar
a realização da eutanásia nele. A
seguir, seu depoimento. (CC)
"É difícil aceitar o estado do
meu marido. Os médicos já cansaram de me dizer: "Não se iluda
pensando que ele te olha. Para
ele, você e uma porta são a mesma coisa". No início, eu tinha esperança de alguma recuperação,
mas agora só quero que ele não
sofra e que eu possa voltar a viver.
Tenho certeza de que, se ele pudesse escolher, não gostaria de
continuar vivendo assim. No início, estava ligado a respirador artificial e tinha sonda nasal. Nas
duas primeiras tentativas de retirar o respirador, o coração dele
parou e tivemos que religar imediatamente. O médico então me
perguntou o que deveria fazer caso, em uma terceira tentativa de
retirada, o coração parasse novamente. Decidimos então que não
religaríamos. Mas o incrível
aconteceu: após a retirada do
aparelho, o coração continuou
batendo normalmente.
Depois de um longo trabalho
dos fisiatras, ele também consegue engolir sem a sonda nasal.
Tudo isso custa muito dinheiro.
A aposentadoria dele por invalidez é de R$ 1.300, mas só de clínica eu pago R$ 1.500. Trabalho
feito louca o mês todo. Não tenho
apoio financeiro de ninguém. O
governo não ajuda em nada. Minha vida parou em dezembro de
1999, aos 34 anos e com dois filhos
adolescentes.
Mas, ao longo desses anos, estou
conseguindo ser mais racional.
Não me importo mais com as críticas que recebo por defender a
eutanásia. Já recebi vários telefonemas de pessoas que me xingam
de assassina. Mas ninguém está
aqui para saber o que eu passo.
Minha filha [de 20 anos] diz que
entende a minha posição, mas
não concordaria com algum ato
que apressasse a morte do pai. Eu
respeito a opinião dela. Hoje, não
há o que fazer, a não ser esperar."
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