São Paulo, segunda-feira, 18 de abril de 2005

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CONTRA

"Pai e mãe jamais fariam isso"

DA REPORTAGEM LOCAL

Pais de Fábio Marcondes de Lima, 21, que vive em estado vegetativo há três anos, Marisa, 50, e Marcos Antonio de Lima, 51, vêem no caso da norte-americana Terri Schiavo "um assassinato".
"Nem os condenados à morte naquele país perecem por fome e falta de hidratação", declara o pai, que se diz revoltado após três anos de luta em busca de fisioterapia permanente para o filho. Para ele, o Estado brasileiro "já pratica a eutanásia" por não dar assistência a esses pacientes.
Terri morreu após a retirada do tubo de alimentação, determinada pela Justiça após pedido de seu marido. "Um pai e uma mãe jamais fariam isso", diz Marcos.
Sem fisioterapia, pacientes em estado vegetativo sofrem uma terrível atrofia dos membros. Hoje são os próprios pais que fazem exercícios com Fábio, por não terem recursos para pagar um tratamento particular.
Lima diz, no entanto, ter encontrado famílias mais pobres e menos instruídas com pacientes totalmente encolhidos, em camas, ou atados, para evitar uma piora no quadro. O que acontece muitas vezes quando se faz isso, relata, é que os membros ficam rígidos.
Lima tentou um tratamento experimental para o menino em Cuba, obtido com ajuda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas um imbróglio entre os dois governos encerrou a assistência, que trouxe melhoras ao menino, segundo os médicos.
"As autoridades brasileiras só discutem a eutanásia, mas o que fazer com esses pacientes? Apesar das graves condições neurológicas, são seres humanos que dormem, acordam e que, no caso do meu filho, sentem dor. É injusto tirar todas as esperanças dessas pessoas", continua Lima.
Todas as instituições visitadas pelos Lima recusam o tratamento de Fábio, dizem os pais. "Estamos tentando há três anos e não conseguimos ver uma perspectiva." Nos últimos três anos, o comerciante tem buscado informações sobre lesões cerebrais. Para o pai, o governo deveria discutir ações para evitar que mais jovens sofram esses danos.
"Sei, por exemplo, que uma medida simples, como baixar a temperatura do corpo após o acidente, pode evitar que a lesão piore. Mas isso não é discutido", afirmou. "Sabe, dá uma revolta."
Depois de ter voltado de Cuba para São Paulo, a família Lima não recebeu mais nenhuma ajuda do gabinete do presidente.
(FABIANE LEITE)

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