São Paulo, terça-feira, 18 de abril de 2006

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URBANISMO

Exigências para que comércio seja aprovado incluem alargamento de via, novo acesso ao Minhocão e troca de iluminação

Hipermercado na Augusta mudará ruas

JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
AFRA BALAZINA
DA REPORTAGEM LOCAL

O projeto de construir um hipermercado em um terreno na rua Augusta só será aprovado após uma série de mudanças na região. As exigências incluem alargar a rua Marquês de Paranaguá, melhorar a iluminação, criar guias rebaixadas para deficientes e corrigir a trajetória de um dos acessos ao Minhocão, no cruzamento com a própria Augusta.
O terreno fica entre as ruas Marquês de Paranaguá e Caio Prado, próximo à rua da Consolação (centro de São Paulo), e hoje é utilizado como estacionamento.
Essas são as principais exigências da Secretaria Municipal dos Transportes para liberar a obra. Mas não será suficiente para agradar a uma parte dos moradores da região, que se declaram insatisfeitos com o total que será mantido como parque -eles queriam que todo o terreno fosse transformado em área verde pública.
O terreno tem 23.851 m2. A proposta é que 9.916 m2 virem parque público, com árvores centenárias, com até 27 m de altura, e bens tombados. O comércio atrairá, nos horários de pico (19h às 22h), cerca de 300 veículos/hora. O nome do hipermercado não foi divulgado pelos autores do projeto.
Por ser um pólo gerador de tráfego, a iniciativa terá de oferecer pelo menos 445 vagas para carros, além de nove só para deficientes. O arquiteto Eduardo Laterza, que trabalhou no projeto, disse que o comércio terá 500 vagas. Laterza disse que, se fosse usado todo o potencial construtivo do terreno -limite de ocupação-, poderiam ser feitas torres com 1.200 apartamentos de 100 m2.
O empreendimento, chamado Parque dos Pássaros, é do empresário Armando Conde, da família que controlava o extinto BCN.
O projeto deve consumir R$ 30 milhões -R$ 25 milhões no mercado, que terá lojas no térreo, e o restante no parque, em um espaço cultural de 1.500 m2, no sistema viário e em compensações ambientais. As obras durarão oito meses a partir de sua aprovação.
O arquiteto e urbanista Candido Malta Filho, que participou da elaboração do projeto, disse que os fundos da loja terão um caixilho de vidro de 30 m x 8 m. "As pessoas que estiverem na loja poderão ver o maciço verde", diz. O projeto prevê um pequeno lago e um anfiteatro na área verde.
Candido Malta, professor de planejamento urbano da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU/USP), dirige o Movimento Defenda São Paulo e preside a Sajep (Sociedade Amigos dos Jardins Europa e Paulistano). Integra o conselho da Emurb (Empresa Municipal de Urbanização).

Má conservação
Enquanto a decisão não sai, o local tem má conservação. Na semana passada, a Folha encontrou sacos de lixo em meio às árvores. Mas a caminhada pela área permite encontrar diversos pássaros, entre eles o sabiá-laranjeira.
Para o ambientalista Carlos Bocuhy, do Proam (Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental), a manutenção do parque é importante para manter o clima da região e conservar um ponto de repouso para os pássaros no centro. Todo ano, gaviões peregrinos vindos do Alasca são vistos no local.
Mas associações de moradores e síndicos de prédios da região pediram, em abaixo-assinado com 3.000 adesões enviado à Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, que o parque ocupe todo o local.
"Nossa região é amplamente abastecida, não precisamos de mercado. Necessitamos de mais verde", disse a síndica Marianne Lara Gaspar. "Um parque interessa não só à região, mas a todo o município", disse a presidente da Sociedade dos Amigos e Moradores do Bairro Cerqueira César/Jardins (Samorcc), Célia Marcondes. Segundo ela, o comércio da Augusta será engolido pelo mercado.
De acordo com Malta, o estabelecimento causará menos impacto que um conjunto de prédios, que necessitariam de muito mais vagas de estacionamento e atrapalhariam mais o trânsito. "Além disso, o hipermercado tem pico de movimento diferente do pico de congestionamento na cidade."


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