São Paulo, sábado, 18 de abril de 1998

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CASO DINIZ
Familiares de presos acusam presidente de negar liberdade aos sequestradores por causa do projeto de reeleição
FHC defende uma farsa, dizem chilenas

MARTA SALOMON
enviada especial a Santiago

Familiares dos sequestradores chilenos do empresário Abílio Diniz atribuíram ontem ao projeto de reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso a resistência do governo brasileiro em conceder a liberdade aos presos estrangeiros. Mães de três dos cinco chilenos completaram ontem dois dias em greve de fome.
"O Fernando Henrique está dizendo que está de mãos atadas porque está pensando na sua reeleição", disse Nora Lembach, mãe de Pedro Lembach, recebida ontem pelo embaixador do Brasil no Chile. Gilberto Velloso mais uma vez descartou a possibilidade de expulsão dos presos, que lhes garantiria liberdade imediata.
Em uma pequena manifestação promovida em frente à embaixada brasileira em Santiago, os familiares divulgaram ontem um comunicado em que classificam os cinco sequestradores chilenos de presos políticos -uma alegação rejeitada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
O texto diz que seus filhos foram "selvagemente torturados pelos serviços de segurança brasileiros e submetidos a julgamentos arbitrários e a condenações desproporcionais".
Margarida Marchi, irmã de Maria Emília (outra das chilenas presas), também estava na manifestação e fez críticas pessoais a FHC. Ela alega, com base nas declarações do presidente do Senado, Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA) que o Congresso Nacional não aprovará nenhum acordo de transferência de presos com o Chile. ACM tem se declarado contra o tratado de liberação de presos.
"Esse acordo não depende do Fernando Henrique e sim dos parlamentares. Para não ter problemas em sua carreira eleitoral, o presidente está defendendo uma farsa", disse.
Marchi cobrou de FHC o que chamou de "enorme dívida de solidariedade" com o Chile, já que o presidente se exilou voluntariamente no país durante parte do regime militar.
Depois que os governos do Brasil e Chile chegarem a uma proposta comum de tratado de transferência de presos, o texto terá de ser submetido aos parlamentos dos dois países.
O chanceler chileno, Miguel Insulza, disse ontem que FHC enfrenta "problemas internos" para expulsar os presos, mas apostou no avanço das negociações. Como os chilenos querem o poder de anistiar os presos depois da transferência, a avaliação do governo brasileiro é que as negociações vão demorar.
A manifestação mais forte no Chile contra a recusa do governo brasileiro em expulsar os sequestradores de Diniz é promovida por três mães em greve de fome.
A mãe de Sergio Urtubia, Eliana, de 75 anos, passou mal ontem. "Vou morrer e a culpa será do Fernando Henrique", disse.
Acompanham Eliana na greve de fome na Casa de Direitos Humanos no Chile: Maria Acevedo, de 72 anos, mãe de Ulises Gallardo, e Marta Montiero, mãe de Héctor Ramón Tapia.
O embaixador Gilberto Velloso recebeu um pedido de audiência das mães com Fernando Henrique Cardoso, mas disse que o encontro não poderá ocorrer no período em que o presidente estiver no Chile participando da 2ª Cúpula das Américas.



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