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SECA
Flagelados da seca invadiram galpões atrás de comida que era da merenda escolar e do Comunidade Solidária
Exército vigia comida contra saqueadores
FÁBIO GUIBU
da Agência Folha, em Recife
Cerca de 40 homens do Exército
vigiam desde ontem as 382,5 toneladas de alimentos que restaram
do saque a um depósito do programa Comunidade Solidária,
ocorrido anteontem em Afogados
da Ingazeira, sertão de Pernambuco (veja quadro).
A presença dos militares foi solicitada pela superintendência regional da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), que
alega haver risco de novos ataques
ao galpão por flagelados da seca.
Segundo o superintendente do
órgão, Manoel Araujo, os soldados permanecerão no local até que
a situação na cidade esteja sob
controle. "Não poderíamos simplesmente assistir ao saque do patrimônio público", justificou.
O depósito foi invadido às 5h de
anteontem por cerca de 800 homens, mulheres e crianças, a
maioria trabalhadores rurais, disse o delegado de Polícia Civil da
cidade, Genivaldo Nascimento de
Melo.
Os saqueadores arrombaram
um portão, derrubaram parte do
muro que cerca o prédio, romperam uma cerca de arame e levaram
17,5 toneladas de alimentos.
A PM interveio para evitar mais
saques. Ninguém ficou ferido.
Segundo o delegado, foram furtados do local 600 fardos de macarrão, 70 de farinha de mandioca, 160 de farinha de milho, além
de 200 sacos de arroz e 50 de feijão.
Às 9h, outro depósito foi invadido no centro da cidade e três toneladas de merenda escolar, destinadas aos 2.700 alunos da rede municipal, foram levadas.
Logo depois, os saqueadores retornaram ao armazém da Conab,
onde permaneceram até as 19h,
sob vigilância da PM.
Os supermercados e mercearias
fecharam. A prefeitura decretou
estado de emergência no município.
Trégua
A saída dos trabalhadores rurais
das proximidades do depósito foi
negociada pela prefeitura. A administração se comprometeu a
doar cestas básicas às famílias
mais necessitadas em troca de
uma trégua de 48 horas.
Alegando não dispor de recursos
para comprar os mantimentos, a
prefeita Maria Giselda Simões Inácio (PPS) deflagrou uma campanha de arrecadação em toda a cidade. Carros de som foram mobilizados e postos de recolhimento,
ativados.
O clima de tensão, no entanto,
persiste, afirmou a prefeita.
Parte do comércio não funcionou ontem e a feira promovida todos os sábados nas ruas centrais
da cidade corre o risco de não ser
realizada hoje.
Em nota oficial, a Fetape (Federação dos Trabalhadores na Agricultura de Pernambuco) declarou
que o saque é a "única alternativa
de sobrevivência que se apresenta" para os lavradores.
Segundo a nota, 95% das pessoas que participaram das ações
são pequenos agricultores que, em
razão da seca, "abandonaram suas
propriedades e migraram para a
periferia em busca de alternativas
de sobrevivência".
A Fetape alertou que, caso o
quadro de "miséria e fome generalizadas" persista, os saques ocorridos em Afogados da Ingazeira poderão ser "os primeiros de uma série" no interior do Estado.
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