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ÁREA SOCIAL EM CRISE
Entidades dizem que prefeitura atrasa contas e que pagamentos não cobrem custo de manutenção
Creches podem fechar
por falta de repasse
MARTA AVANCINI
da Reportagem Local
A creche Sebpa atende a 210
crianças no Jardim Prudência, zona sul de São Paulo. Se não chegar
a um acordo com os 25 funcionários para reduzir salários, ameaça
fechar as portas. "Temos um déficit mensal de R$ 10,1 mil. Se não
contornarmos o problema, teremos de cortar o atendimento", diz
Maria da Penha de Oliveira, uma
das responsáveis pela instituição.
A situação da Sebpa é similar à
das outras 722 creches conveniadas ou administradas diretamente
pela Prefeitura de São Paulo. Enfrenta dificuldade para fechar as
contas no final do mês por defasagem no valor dos repasses feitos
pela prefeitura.
Desde setembro de 97, o valor
mínimo repassado pela prefeitura
às entidades conveniadas -responsáveis por 95% das 90.131
crianças atendidas nas creches
municipais- não é reajustado.
Elas recebem de R$ 97 a R$ 129 por
criança -quanto mais crianças,
menor o valor.
A Amesc (Associação dos Movimentos de Entidades Sociais Comunitárias) estima que o déficit gire em torno de 18% -porcentagem correspondente ao reajuste
salarial concedido aos funcionários das entidades sociais em 97 e
em 98. "Como boa parte do dinheiro é aplicada em salários, as creches estão deficitárias", diz Luiz
Ferretti, presidente da Amesc.
A creche Sebpa recebe da prefeitura R$ 19,9 mil. Suas despesas
com manutenção e salários somam R$ 30 mil. O Centro de Promoção Social São Caetano Thine
enfrenta uma situação parecida: as
despesas chegam a R$ 21,2 mil,
contra um repasse mensal de R$
16,6 mil. "Completamos a receita
com bingos, festas e outras atividades envolvendo a comunidade",
diz Vitelmira Silva, uma das responsáveis pelo centro e membro
do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente.
Além da defasagem, os atrasos
dos repasses -que, segundo a
Amesc, podem chegar a dois meses- dificultam a administração.
"Temos de pagar os encargos salariais no começo do mês e como
nunca temos dinheiro em caixa,
por causa dos atrasos, sempre pagamos com multa", diz Ferretti.
O conselho calcula que 200 entidades tenham interrompido as atividades ou suspenso os convênios
com a prefeitura de 96 a 98.
A saturação do sistema é outro
problema: a lista de espera por
uma vaga nas creches chega perto
de 100 mil crianças, segundo estimativa da própria Secretaria da
Família e do Bem-Estar Social, embora o número de entidades venha
crescendo.
A alimentação é outro alvo de
crítica das entidades. "O fornecimento é irregular e muitas vezes
faltam itens", diz Ferretti. Margarina, por exemplo, não chega às
creches há vários meses.
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