São Paulo, Domingo, 18 de Abril de 1999
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SAÚDE
Droga à base de plantas ainda não é vendida no Brasil
Luta contra celulite
ganha pílula italiana

PRISCILA LAMBERT
da Reportagem Local

Seguindo a febre do Viagra e do Xenical, a mais nova mania -desta vez apenas entre o sexo feminino- é a pílula anticelulite Cellasene, que está chegando para entupir ainda mais o mercado das promessas milagrosas no combate à inimiga número um das mulheres.
A pílula, lançada por uma fábrica de cosméticos italiana em setembro passado, ainda não é comercializada no Brasil, porque não há registro no Ministério da Saúde.
Mas muitas mulheres já estão desembolsando mais de R$ 100 para mandar buscar no exterior uma caixa para um mês.
Outros 12 países, entre eles EUA, Canadá, Austrália e França, já estão vendendo o remédio. De acordo com a fábrica Medestea Internazionale, de Turim, na Itália, de outubro até abril foram vendidos 5 milhões de caixas de comprimidos.
O Cellasene é um medicamento à base de plantas medicinais -gingko biloba, centelha asiática, cavalinha e sementes de uva secas, entre outras- que supostamente teriam efeito contra a celulite.
Especialistas ouvidos pela Folha dizem desconhecer esses efeitos.
"Não há comprovação científica alguma sobre os benefícios dessas ervas no combate à celulite, assim como de nenhum outro método. Celulite é uma doença que não tem cura", diz a dermatologista Lilian Ota, consultora de beleza do Universo Online.
Segundo ela, apesar de os ingredientes já serem conhecidos e não significarem riscos à saúde, é preciso tomar cuidados. Ela recomenda que quem quiser experimentar a pílula procure acompanhamento médico.
"Algumas pessoas podem ter alergia aos ingredientes. Além disso, é preciso saber a dose certa, já que o excesso de algumas substâncias, mesmo que naturais, pode ser prejudicial."

Os mitos
Muitas mulheres gastam fortunas testando métodos de combate à celulite que cada vez mais crescem e se sofisticam em clínicas de estética do país.
Entre cremes, bandagens, choques elétricos, injeções, banhos de luz, a estudante Carolina Ferreira Garcia, 21, diz que já experimentou todos.
"É neurose, tudo que sai eu testo", diz. Neurose mesmo, já que, como ela mesmo diz, não tem "quase nada de celulite".
Carolina está tomando Cellasene há 15 dias. "Vi a propaganda na TV e dei um jeito de importar." Ela gastou R$ 600 com quatro caixas da droga, para oito semanas, e diz que ainda é cedo para ver resultados.
Quanto aos outros métodos, Carolina desanima. "Acho que só ginástica ajuda."
De acordo com dermatologistas, Carolina está certa. Para prevenir ou até mesmo atenuar a celulite, há três medidas a serem tomadas: evitar alimentos que contêm açúcar e gordura, fazer atividades físicas e massagear diariamente os locais afetados.
"A massagem ativa a circulação, causando o mesmo efeito que qualquer uma dessas técnicas", diz Lilian.
A dermatologista Luciane Scattone afirma que essas técnicas têm efeito efêmero, melhorando o aspecto da pele durante algum tempo. "Mas não cura a celulite."
Segundo Maurício de Maio, responsável pelo setor de medicina estética da cirurgia plástica do Hospital das Clínicas de São Paulo, há indícios de que o conjunto de algumas dessas técnicas utilizadas atualmente diminuam a celulite.
Ele é responsável por um estudo que está sendo desenvolvido no HC para testar a validação de métodos químicos, elétricos, manuais, de drenagem e cremes tópicos contra celulite.
Maio reforça, no entanto, que os estudos ainda não são conclusivos.
"Ainda é cedo para afirmar qualquer coisa." Ele não quis comentar sobre a nova pílula, já que não chegou a usá-la em seus estudos.


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