São Paulo, Domingo, 18 de Abril de 1999
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Médicos já receitam remédio
às pacientes

da Reportagem Local

Apesar da falta de evidências científicas que comprovem a eficácia do medicamento, já há médicos brasileiros receitando Cellasene para suas pacientes.
A dermatologista Áurea Aparecida Lopes é uma delas. Ela recebeu informações sobre o medicamento por meio de correspondências enviadas por importadoras.
Áurea diz que acredita na ação das plantas medicinais e já receitava algumas delas, como gingko biloba, para ativar a circulação sanguínea.
"Digo aos meus pacientes que este é um produto novo cujos efeitos não são muito conhecidos. Não escondo o fato de não ser reconhecido cientificamente", conta ela. "Mas sabemos que não há efeitos colaterais."
Áurea, no entanto, informa às pacientes que qualquer tratamento contra celulite é apenas um coadjuvante para atenuar o problema. "Sem dieta e exercícios, nada adianta."
Segundo ela, o pedido costuma partir das próprias pacientes, que vêem propaganda do produto e querem uma receita.
Várias importadoras estão intermediando a compra para mulheres brasileiras.
Uma delas, que pediu para não ser identificada, tem mais de 50 mulheres na fila de espera e informou que há dificuldades para trazer o produto, porque a produção está esgotada no momento.
A clínica de estética Care Center, de São Paulo, também está intermediando a compra da pílula. "Como o produto não tem registro no Ministério da Saúde, pedimos para a distribuidora, de Miami (EUA), enviar por correio para a casa das clientes", conta o proprietário, Cyril Rothschild.
Ele diz que vende cerca de 100 caixas por semana -cada uma sai ao consumidor por US$ 70.
O próprio criador do Cellasene, o químico italiano Gianfranco Merizzi, se defende com unhas e dentes dos médicos que negam os efeitos positivos da pílula.
"Eles não conhecem os testes que realizamos durante seis anos em conjunto com a Universidade de Pavia antes de colocá-la no mercado", diz.
Segundo ele, seus extratos são muito mais concentrados e ativos do que os disponíveis no mercado internacional.

Ministério da Saúde
O Ministério da Saúde informou que não chegou ao órgão nenhum pedido de registro do medicamento.
Silas Gouveia, diretor da divisão de medicamentos da Vigilância Sanitária, disse que, para ser aprovado, o produto será submetido a uma série de análises que podem demorar vários meses para serem concluídas.
Segundo ele, algumas ervas, como gingko biloba e centelha asiática, já têm registro no ministério. "Mas não conhecemos os efeitos dessas ervas se ingeridas juntas", diz Gouveia. A comercialização da pílula, portanto, é ilegal no país. "O problema é que não temos controle sobre os que burlam a lei."


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