São Paulo, quarta-feira, 18 de maio de 2005

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ADMINISTRAÇÃO

Demissões fazem parte de minirreforma no primeiro escalão; titular de Esportes deve sair nos próximos dias

Mais dois secretários caem na gestão Serra

DA REPORTAGEM LOCAL

Mais dois secretários da Prefeitura de São Paulo deixaram o cargo ontem, quatro meses e meio após a posse de José Serra (PSDB).
As demissões de Claudio Lottenberg, da Saúde, e Maria Helena Orth, de Serviços, fazem parte da minirreforma que Serra preparou para seu primeiro escalão, conforme revelado ontem pela Folha.
O titular da pasta de Esportes, Marquinhos Tortorello, deve sair nos próximos dias. O PPS, partido do qual faz parte, negocia um novo nome para ocupar o cargo.
Em abril, Emanoel Araújo deixou a Cultura fazendo críticas a Serra. Assim como Araújo, Lottenberg saiu do cargo divulgando carta aberta ao prefeito na qual reclamou de falta de autonomia.
Presidente licenciado do Hospital Albert Einstein, o ex-titular da Saúde será substituído pela diretora da Universidade de Santo Amaro, Maria Cristina Cury.
Já Maria Orth dará lugar a Andrea Matarazzo, que passa a acumular a pasta de Serviços e a Subprefeitura da Sé, sob seu comando desde o início da gestão tucana.
Nesse caso, Serra, que tem fama de centralizador, escolheu um auxiliar muito próximo para cuidar de uma das áreas mais sensíveis da administração -a pasta abriga os contratos do lixo.

Insatisfação
As alterações no secretariado são consideradas por interlocutores de Serra como um "ajuste". Elas revelaram, no entanto, desentendimentos internos da administração tucana em São Paulo.
Segundo assessores do prefeito, ele estava insatisfeito com uma suposta "falta de empenho" tanto de Lottenberg quanto de Orth. Os dois seriam considerados secretários "ausentes" no dia-a-dia.
Na sua carta de demissão entregue anteontem, porém, Lottenberg afirma: "É de minha natureza assumir desafios na plenitude de minha autoridade". E conclui: "Tornou-se impossível conciliar minha percepção do caminho a ser percorrido, com as atribuições do cargo, tais como se configuram, o que me obriga a abrir mão da tarefa a mim confiada".
Lottenberg também sugere na carta que não se deixou levar pelo "cronograma do marketing". "As propostas até aqui colocadas (...) não se curvaram a demandas alegóricas ou soluções vazias ditadas pelo cronograma do marketing."
Um dos problemas que Serra gostaria de ver resolvidos rapidamente em sua administração é o da distribuição de remédios na rede do SUS (Sistema Único de Saúde). O estoque de medicamentos foi refeito. A entrega dos remédios, porém, ainda é deficitária.
No domingo, a Folha revelou que a promessa número um de Serra para a área da saúde, o programa "Mãe Paulistana", encontra dificuldades de implementação. A distribuição gratuita de passes de ônibus para gestantes foi reduzida em 75% na gestão tucana, se comparada aos últimos meses da de Marta Suplicy (PT).
Já a ex-titular de Serviços, secretaria responsável pelos contratos do lixo, afirmou em sua carta de demissão que o prefeito "talvez necessite ter à frente da SES [secretaria de Serviços], mais do que uma especialista na área, uma figura com forte presença política".
Em março, numa reunião de secretários com subprefeitos da zona leste, o prefeito mandou buscar Orth de helicóptero após saber que ela não estava no local.
Ainda nesse encontro, a então secretária se recusou a dar seu telefone pessoal aos subprefeitos, o que irritou Serra, levando-o a oferecer o próprio número para que problemas fossem resolvidos.
Orth ainda diz que deixa a prefeitura por ordem "estritamente pessoal e de saúde". Mas a ex-secretária também estaria travando uma queda-de-braço com auxiliares do secretário de Governo, Aloysio Nunes Ferreira, sobre os rumos do serviço de varrição.
Ela seria contra um estudo encaminhado pela pasta do Governo que prevê a absorção dos serviços de varrição -hoje pagos por meio de contratações emergenciais- pelos contratos de concessão para a coleta de lixo.

Serra em silêncio
Serra não comentou ontem as demissões e só permitiu foto de seu encontro com a nova secretária da Saúde. Em cartas divulgadas por sua assessoria, ele lamentou as saídas e elogiou os secretários que deixaram sua equipe.
Maria Orth e Lottenberg não eram conhecidos de Serra antes de ele assumir a prefeitura. Lottenberg foi indicado por médicos da iniciativa privada. Orth só assumiu depois de o prefeito receber um "não" definitivo do ex-ministro Clóvis Carvalho, que chefiou a transição.
As áreas onde houve alteração englobam duas importantes promessas de campanha de Serra. Além de melhorar a saúde -tema central da disputa com Marta na sucessão-, o tucano afirmou que, se eleito, iria revisar os contratos de concessão de lixo. Pesquisa Datafolha por ocasião dos primeiros cem dias da nova gestão apontou Serra como o prefeito com o pior início de governo desde Jânio Quadros (1985-1988).
(CATIA SEABRA, CONRADO CORSALETTE, FABIANE LEITE E FABIO SCHIVARTCHE)

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