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ADMINISTRAÇÃO
Demissões fazem parte de minirreforma no primeiro escalão; titular de Esportes deve sair nos próximos dias
Mais dois secretários caem na gestão Serra
DA REPORTAGEM LOCAL
Mais dois secretários da Prefeitura de São Paulo deixaram o cargo ontem, quatro meses e meio
após a posse de José Serra (PSDB).
As demissões de Claudio Lottenberg, da Saúde, e Maria Helena
Orth, de Serviços, fazem parte da
minirreforma que Serra preparou
para seu primeiro escalão, conforme revelado ontem pela Folha.
O titular da pasta de Esportes,
Marquinhos Tortorello, deve sair
nos próximos dias. O PPS, partido
do qual faz parte, negocia um novo nome para ocupar o cargo.
Em abril, Emanoel Araújo deixou a Cultura fazendo críticas a
Serra. Assim como Araújo, Lottenberg saiu do cargo divulgando
carta aberta ao prefeito na qual reclamou de falta de autonomia.
Presidente licenciado do Hospital Albert Einstein, o ex-titular da
Saúde será substituído pela diretora da Universidade de Santo
Amaro, Maria Cristina Cury.
Já Maria Orth dará lugar a Andrea Matarazzo, que passa a acumular a pasta de Serviços e a Subprefeitura da Sé, sob seu comando
desde o início da gestão tucana.
Nesse caso, Serra, que tem fama
de centralizador, escolheu um auxiliar muito próximo para cuidar
de uma das áreas mais sensíveis
da administração -a pasta abriga os contratos do lixo.
Insatisfação
As alterações no secretariado
são consideradas por interlocutores de Serra como um "ajuste".
Elas revelaram, no entanto, desentendimentos internos da administração tucana em São Paulo.
Segundo assessores do prefeito,
ele estava insatisfeito com uma
suposta "falta de empenho" tanto
de Lottenberg quanto de Orth. Os
dois seriam considerados secretários "ausentes" no dia-a-dia.
Na sua carta de demissão entregue anteontem, porém, Lottenberg afirma: "É de minha natureza assumir desafios na plenitude
de minha autoridade". E conclui:
"Tornou-se impossível conciliar
minha percepção do caminho a
ser percorrido, com as atribuições
do cargo, tais como se configuram, o que me obriga a abrir mão
da tarefa a mim confiada".
Lottenberg também sugere na
carta que não se deixou levar pelo
"cronograma do marketing". "As
propostas até aqui colocadas (...)
não se curvaram a demandas alegóricas ou soluções vazias ditadas
pelo cronograma do marketing."
Um dos problemas que Serra
gostaria de ver resolvidos rapidamente em sua administração é o
da distribuição de remédios na rede do SUS (Sistema Único de Saúde). O estoque de medicamentos
foi refeito. A entrega dos remédios, porém, ainda é deficitária.
No domingo, a Folha revelou
que a promessa número um de
Serra para a área da saúde, o programa "Mãe Paulistana", encontra dificuldades de implementação. A distribuição gratuita de
passes de ônibus para gestantes
foi reduzida em 75% na gestão tucana, se comparada aos últimos
meses da de Marta Suplicy (PT).
Já a ex-titular de Serviços, secretaria responsável pelos contratos
do lixo, afirmou em sua carta de
demissão que o prefeito "talvez
necessite ter à frente da SES [secretaria de Serviços], mais do que
uma especialista na área, uma figura com forte presença política".
Em março, numa reunião de secretários com subprefeitos da zona leste, o prefeito mandou buscar Orth de helicóptero após saber que ela não estava no local.
Ainda nesse encontro, a então
secretária se recusou a dar seu telefone pessoal aos subprefeitos, o
que irritou Serra, levando-o a oferecer o próprio número para que
problemas fossem resolvidos.
Orth ainda diz que deixa a prefeitura por ordem "estritamente
pessoal e de saúde". Mas a ex-secretária também estaria travando
uma queda-de-braço com auxiliares do secretário de Governo,
Aloysio Nunes Ferreira, sobre os
rumos do serviço de varrição.
Ela seria contra um estudo encaminhado pela pasta do Governo que prevê a absorção dos serviços de varrição -hoje pagos por
meio de contratações emergenciais- pelos contratos de concessão para a coleta de lixo.
Serra em silêncio
Serra não comentou ontem as
demissões e só permitiu foto de
seu encontro com a nova secretária da Saúde. Em cartas divulgadas por sua assessoria, ele lamentou as saídas e elogiou os secretários que deixaram sua equipe.
Maria Orth e Lottenberg não
eram conhecidos de Serra antes
de ele assumir a prefeitura. Lottenberg foi indicado por médicos
da iniciativa privada. Orth só assumiu depois de o prefeito receber um "não" definitivo do ex-ministro Clóvis Carvalho, que
chefiou a transição.
As áreas onde houve alteração
englobam duas importantes promessas de campanha de Serra.
Além de melhorar a saúde -tema central da disputa com Marta
na sucessão-, o tucano afirmou
que, se eleito, iria revisar os contratos de concessão de lixo. Pesquisa Datafolha por ocasião dos
primeiros cem dias da nova gestão apontou Serra como o prefeito com o pior início de governo
desde Jânio Quadros (1985-1988).
(CATIA SEABRA, CONRADO CORSALETTE, FABIANE LEITE E FABIO SCHIVARTCHE)
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