|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PAC pode agravar exploração sexual infantil
Constatação do problema partiu das entidades de defesa dos direitos humanos, dos conselhos tutelares e das ONGs
Governo Lula reconhece o problema nos bolsões de miséria onde o PAC está e já promove ações para evitar
a exploração sexual infantil
THIAGO REIS
DA AGÊNCIA FOLHA
KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA
Principal vitrine do governo
Lula, o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) deve
agravar um problema recorrente de grandes obras de infra-estrutura pelo país: a exploração sexual de crianças e adolescentes. A constatação é feita
por especialistas em direitos
humanos, conselheiros tutelares e ONGs, como a Andi
(Agência de Notícias dos Direitos da Infância).
Em alguns locais, como Salgueiro (PE), por onde passam
duas das maiores obras do PAC
-a transposição do rio São
Francisco e a rodovia Nova
Transnordestina-, conselheiros tutelares detectaram agravamento da situação.
O governo admite a preocupação com o aumento de casos
nos canteiros das obras do PAC
e lançou um plano de prevenção à exploração infantil às
margens da megaobra de asfaltamento da BR-163, que liga
Santarém (PA) a Cuiabá (MT).
O projeto nas obras dessa BR,
coordenado pela Secretaria Especial de Direitos Humanos da
Presidência da República, foi
lançado há um ano, com atividades preventivas: divulgação
do número de telefone para denúncias e fortalecimento da rede de atendimento local e das
políticas sociais.
Segundo a coordenadora do
programa de enfrentamento da
violência sexual contra crianças e adolescentes da secretaria, Leila Paiva, existe uma
preocupação do governo com
projetos de desenvolvimento
econômico, não só obras públicas, pois geralmente causam
mais exploração.
Ana Celina Hamoy, do Cedeca (Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente) de Belém, diz que o projeto
pode evitar a criação de redes
de prostituição de crianças, o
que, segundo ela, ocorreu na
construção da hidrelétrica de
Tucuruí e na instalação dos garimpos no Estado.
Para Carolina Padilha, do
Instituto WCF (World Childhood Foundation) Brasil, essas redes são criadas especialmente em obras construídas longe dos grandes centros urbanos, onde há migrantes. "São
homens, distantes das suas famílias, com recurso financeiro,
em regiões pauperizadas, e sem
opções de lazer."
Segundo ela, "a estrutura do
Estado não está preparada para
dar conta da novas demandas
geradas". "Até ela ser organizada, a obra já terminou."
O assistente social Eduardo
Chaves, do grupo Violes (Grupo
de Pesquisa sobre Violência e
Exploração Sexual Comercial
de Mulheres, Crianças e Adolescentes) da UnB (Universidade de Brasília), concorda e diz
que a exploração é muitas vezes
"maquiada, para não denegrir o
empreendimento financeiro".
A socióloga Marlene Vaz estuda há quase 35 anos a exploração sexual de crianças e adolescentes. Diz que o problema é histórico e que grandes obras
sempre geraram aumento de
casos, sobretudo por causa da
pobreza. "É uma sociedade de
consumo onde o tempo todo se
destaca a importância de ter
um celular, uma boa roupa,
perfumes caros. Não há como
essas meninas ignorarem isso."
Texto Anterior: Centro de atendimento diário é base da reforma psiquiátrica Próximo Texto: Casos aumentam às margens do São Francisco Índice
|