São Paulo, segunda, 18 de maio de 1998

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OPINIÃO
A descoberta do mundo

RAUL WASSERMANN

A 15ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, paralelamente aos seus números superlativos no contexto latino-americano, apresentou um aspecto muito gratificante: a "invasão" do público infanto-juvenil, que demonstrou interesse ímpar pela montanha de livros com que se deparou. Somente as visitas escolares agendadas levaram ao Expo Center Norte dezenas de milhares de alunos, de 500 escolas públicas e particulares. O "Mundo Mágico do Livro" da Câmara Brasileira do Livro recebeu mais de 30 mil crianças de 5 a 12 anos, grande parte delas tendo a oportunidade de seu primeiro contato com o livro.
Milhares de crianças de escolas públicas, que enfrentam todas as agruras e deficiências do ensino oficial, descobriram um novo mundo em cada estande, em cada livro que tinham a oportunidade de abrir. Aos observadores mais atentos, foi inevitável compartilhar com elas a emoção dessa descoberta.
O crescente interesse do público infanto-juvenil pelo livro também é atestado pelas estatísticas. Das pessoas que visitaram a 15ª Bienal de São Paulo, conforme indicaram as pesquisas realizadas durante o evento, 30% tinham como primeira expectativa a compra de obras dirigidas àquele segmento do público. Esse índice demonstra também uma nova tendência no país: a crescente preocupação dos pais em oferecer melhor formação cultural e intelectual aos seus filhos.
Essa nova predisposição a favor da cultura, que aflora nos pais e no público infanto-juvenil, deve ser estimulada pelo poder público e por toda a sociedade. A democratização da cultura é condição imprescindível para o desenvolvimento de um país, principalmente neste final de milênio, em que a informação -entendida como conhecimento científico, humanístico, técnico e literário- torna-se o principal diferencial de um povo.
Numa análise realista, dificilmente o Brasil terá condições, em razão do tempo perdido ao longo do século, de resgatar do analfabetismo e da carência cultural a parcela da presente geração de adultos que não teve acesso à escola e à educação. Entretanto, é perfeitamente factível e necessário aprender com os erros do passado, possibilitando que as crianças e jovens de hoje desfrutem do direito à cultura e à formação intelectual.
As feiras de livros como a Bienal de São Paulo demonstram que as crianças e os adolescentes são absolutamente abertos ao conhecimento. Basta oferecer-lhes a oportunidade de acesso ao livro. Basta garantir a eles o direito a uma escola de boa qualidade.
Assim, é vital e urgente ampliar geometricamente o número de bibliotecas públicas e escolares em todo o país. Da mesma forma, não se pode mais adiar a redenção do ensino público, que deve ser o grande instrumento da democratização das oportunidades.
É imprescindível que, em cada escola, em cada livro, as crianças brasileiras, independentemente do poder aquisitivo de seus pais, descubram verdadeiramente um mundo novo, em que elas sejam cidadãs, condição que somente o conhecimento lhes pode oferecer.


Raul Wassermann, 56, editor, é o segundo vice-presidente da Câmara Brasileira do Livro, promotora da Bienal Internacional do Livro de São Paulo.



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