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OPINIÃO
A descoberta do mundo
RAUL WASSERMANN
A 15ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, paralelamente
aos seus números superlativos no
contexto latino-americano, apresentou um aspecto muito gratificante: a "invasão" do público infanto-juvenil, que demonstrou interesse ímpar pela montanha de livros com que se deparou. Somente as visitas escolares agendadas
levaram ao Expo Center Norte dezenas de milhares de alunos, de
500 escolas públicas e particulares.
O "Mundo Mágico do Livro" da
Câmara Brasileira do Livro recebeu mais de 30 mil crianças de 5 a
12 anos, grande parte delas tendo a
oportunidade de seu primeiro
contato com o livro.
Milhares de crianças de escolas
públicas, que enfrentam todas as
agruras e deficiências do ensino
oficial, descobriram um novo
mundo em cada estande, em cada
livro que tinham a oportunidade
de abrir. Aos observadores mais
atentos, foi inevitável compartilhar com elas a emoção dessa descoberta.
O crescente interesse do público
infanto-juvenil pelo livro também
é atestado pelas estatísticas. Das
pessoas que visitaram a 15ª Bienal
de São Paulo, conforme indicaram
as pesquisas realizadas durante o
evento, 30% tinham como primeira expectativa a compra de obras
dirigidas àquele segmento do público. Esse índice demonstra também uma nova tendência no país:
a crescente preocupação dos pais
em oferecer melhor formação cultural e intelectual aos seus filhos.
Essa nova predisposição a favor
da cultura, que aflora nos pais e no
público infanto-juvenil, deve ser
estimulada pelo poder público e
por toda a sociedade. A democratização da cultura é condição imprescindível para o desenvolvimento de um país, principalmente
neste final de milênio, em que a
informação -entendida como
conhecimento científico, humanístico, técnico e literário- torna-se o principal diferencial de um
povo.
Numa análise realista, dificilmente o Brasil terá condições, em
razão do tempo perdido ao longo
do século, de resgatar do analfabetismo e da carência cultural a parcela da presente geração de adultos que não teve acesso à escola e à
educação. Entretanto, é perfeitamente factível e necessário aprender com os erros do passado, possibilitando que as crianças e jovens de hoje desfrutem do direito
à cultura e à formação intelectual.
As feiras de livros como a Bienal
de São Paulo demonstram que as
crianças e os adolescentes são absolutamente abertos ao conhecimento. Basta oferecer-lhes a oportunidade de acesso ao livro. Basta
garantir a eles o direito a uma escola de boa qualidade.
Assim, é vital e urgente ampliar
geometricamente o número de bibliotecas públicas e escolares em
todo o país. Da mesma forma, não
se pode mais adiar a redenção do
ensino público, que deve ser o
grande instrumento da democratização das oportunidades.
É imprescindível que, em cada
escola, em cada livro, as crianças
brasileiras, independentemente
do poder aquisitivo de seus pais,
descubram verdadeiramente um
mundo novo, em que elas sejam
cidadãs, condição que somente o
conhecimento lhes pode oferecer.
Raul Wassermann, 56, editor, é o segundo vice-presidente da Câmara Brasileira do Livro,
promotora da Bienal Internacional do Livro de
São Paulo.
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