São Paulo, segunda, 18 de maio de 1998

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Bebida abre espaço para as drogas ilícitas

da Reportagem Local

Cerca de 15% dos jovens que consomem álcool tornam-se dependentes, segundo estimativa da Organização Mundial de Saúde. Quanto mais cedo começam a beber, maior a probabilidade de o quadro evoluir para o vício.
O vício também pode não ficar apenas no álcool. Para o psiquiatra Dartiu Xavier, coordenador do Proad (Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes), da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), a bebida funciona como uma porta de entrada para as outras drogas -as ilícitas.
"Costuma-se dizer que a maconha é que funciona como essa porta. Mas isso não tem comprovação científica. A maioria das pessoas que fumam maconha abandona o uso após alguns anos, sem consumir outras drogas."
Na opinião do médico, o grande problema do álcool é a tolerância que a sociedade tem sobre ele. "Os pais ficam extremamente preocupados quando descobrem que seus filhos fumam um cigarro de maconha nos finais de semana, mas não ligam se eles bebem duas ou três vezes por semana."
Para Xavier, que há dez anos trabalha com prevenção em escolas, são poucos os colégios que abordam a questão da dependência com eficiência.
Segundo ele, a maioria das escolas resolve a questão com a expulsão do aluno que apresenta problemas. Fazendo isso, na opinião do médico, a escola acaba com qualquer possibilidade de fazer a prevenção.
"O aluno que usa drogas, lícitas ou ilícitas, ao ver um colega expulso por esse motivo, se esconde e perde a oportunidade de discutir o seu problema", afirma Xavier.
As escolas não admitem que adotam essa postura, mas, para o presidente da Associação Intermunicipal de Pais e Alunos, Mauro Bueno, ela é frequente.
"As escolas sequer admitem a existência dos problemas para não estragar sua imagem com os outros pais", diz.
Segundo Bueno, a expulsão costuma ocorrer de uma forma velada. "A escola chama os pais do aluno com problemas e os convidam a retirar o filho do colégio. Os pais também não brigam contra a medida, para evitar o constrangimento." (GD e RK)


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