|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MOVIMENTO ESTUDANTIL
Fim do controle sobre a emissão era defendido pela oposição ao PC do B, hegemônico na entidade
Congresso da UNE mantém monopólio das carteirinhas
ANTÔNIO GOIS
ENVIADO ESPECIAL A GOIÂNIA
Estudantes reunidos no 47º
Congresso da UNE (União Nacional dos Estudantes) decidiram, na
noite de sábado, manter o monopólio da entidade na emissão das
carteirinhas que dão direito à
meia-entrada em cinemas e eventos culturais. O encontro teve a
participação de cerca de 8.000 estudantes, dos quais 4.198 estavam
habilitados a votar.
O fim do monopólio era defendido por setores de oposição ao
PC do B, partido hegemônico no
congresso. Ontem houve votação
também da proposta de eleições
diretas na entidade.
Na votação, os delegados cadastrados levantam os crachás de cor
amarela para aclamar a proposta
vencedora.
Como não houve consenso sobre a proposta vencedora, a diretoria da entidade decidiu fazer
uma contagem manual dos votos,
com a eleição para presidente da
UNE. Até o fechamento desta edição, a apuração de votos não havia terminado.
O PC do B é a principal força da
entidade e, até ontem, havia ganho todas as propostas que defendeu. Seu candidato a presidente,
Felipe Maia, 23, era o favorito.
Representantes dos DCEs (diretórios centrais de estudantes) da
USP e da Unicamp inscreveram
uma chapa com o objetivo de protestar contra a influência dos partidos na entidade.
"Não somos contra a partidarização dos jovens, mas não concordamos com a forma com que
os partidos manipulam o congresso da UNE ", disse Rafael Pereira, 18, aluno de pedagogia da
Unicamp. Fábio Bentes, do PSB,
reclamou do credenciamento dos
delegados. "Quiseram nos boicotar porque seríamos o fiel da balança. Trouxemos 700 delegados,
mas só inscrevemos 350."
George Braga, da coordenação
de credenciamento, rebateu as
críticas: "Eles chegaram depois do
prazo, e eram apenas quatro".
Torcidas
O recém-inaugurado Ginásio
Internacional de Esportes de
Goiânia mais parecia abrigar torcidas de futebol, com gritos de
guerra, coreografias, bandeiras e
brigas de grupos rivais.
A diferença era que as discussões, sempre acaloradas, envolviam temas como o apoio da UNE
a Cuba ou as inúmeras diferenças
entre as tendências de esquerda
com participação na entidade.
Entre elas estavam partidos e
forças que raramente conseguem
ocupar mais do que um minuto
nos horários gratuitos eleitorais
na televisão, como o Partido da
Causa Operária, o PSTU (Partido
Socialista dos Trabalhadores Unificado) e a Liga Bolchevique Internacionalista.
Cada vez que ganhavam uma
votação, os grupos vencedores
comemoravam como uma torcida comemora um gol. Como resposta, os perdedores criticavam o
que consideravam manipulação
cantando a música "Admirável
Gado Novo", de Zé Ramalho, cujo
refrão fala em "vida de gado, povo
marcado, povo feliz".
Para compreender algumas discussões no movimento estudantil, ainda é preciso entender as divergências entre líderes históricos
do comunismo da época da
União Soviética, como Stálin, Lênin e Trotsky.
Nos arredores do ginásio, era
possível presenciar diálogos como esse: "Você tem uma camisa
do Lênin? ", pergunta um estudante. "Do Lênin, não. Ele era estalinista", retruca o vendedor de
uma barraca. "O Lênin nunca foi
estalinista. Ele era trotskista, mas
Stálin deturpou o que ele falava",
encerra o aluno.
"Morreu, morreu, morreu o estalinismo lá no leste europeu" e
"PC do B só se resume a um partido sustentado pela UNE" eram os
gritos mais comuns dos opositores da ala hegemônica.
A resposta dos seguidores do
PC do B vinha com gritos como
"oposição unificada é a direita
disfarçada" ou "demagogia, demagogia".
Texto Anterior: Pânico em Barueri: Petrobras estima vazamento de 150 toneladas de gás do tipo GLP Próximo Texto: Para candidatos, tempo de prova foi curto Índice
|