São Paulo, segunda-feira, 18 de junho de 2001

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MOVIMENTO ESTUDANTIL

Fim do controle sobre a emissão era defendido pela oposição ao PC do B, hegemônico na entidade

Congresso da UNE mantém monopólio das carteirinhas

ANTÔNIO GOIS
ENVIADO ESPECIAL A GOIÂNIA

Estudantes reunidos no 47º Congresso da UNE (União Nacional dos Estudantes) decidiram, na noite de sábado, manter o monopólio da entidade na emissão das carteirinhas que dão direito à meia-entrada em cinemas e eventos culturais. O encontro teve a participação de cerca de 8.000 estudantes, dos quais 4.198 estavam habilitados a votar.
O fim do monopólio era defendido por setores de oposição ao PC do B, partido hegemônico no congresso. Ontem houve votação também da proposta de eleições diretas na entidade.
Na votação, os delegados cadastrados levantam os crachás de cor amarela para aclamar a proposta vencedora.
Como não houve consenso sobre a proposta vencedora, a diretoria da entidade decidiu fazer uma contagem manual dos votos, com a eleição para presidente da UNE. Até o fechamento desta edição, a apuração de votos não havia terminado.
O PC do B é a principal força da entidade e, até ontem, havia ganho todas as propostas que defendeu. Seu candidato a presidente, Felipe Maia, 23, era o favorito.
Representantes dos DCEs (diretórios centrais de estudantes) da USP e da Unicamp inscreveram uma chapa com o objetivo de protestar contra a influência dos partidos na entidade.
"Não somos contra a partidarização dos jovens, mas não concordamos com a forma com que os partidos manipulam o congresso da UNE ", disse Rafael Pereira, 18, aluno de pedagogia da Unicamp. Fábio Bentes, do PSB, reclamou do credenciamento dos delegados. "Quiseram nos boicotar porque seríamos o fiel da balança. Trouxemos 700 delegados, mas só inscrevemos 350."
George Braga, da coordenação de credenciamento, rebateu as críticas: "Eles chegaram depois do prazo, e eram apenas quatro".

Torcidas
O recém-inaugurado Ginásio Internacional de Esportes de Goiânia mais parecia abrigar torcidas de futebol, com gritos de guerra, coreografias, bandeiras e brigas de grupos rivais.
A diferença era que as discussões, sempre acaloradas, envolviam temas como o apoio da UNE a Cuba ou as inúmeras diferenças entre as tendências de esquerda com participação na entidade.
Entre elas estavam partidos e forças que raramente conseguem ocupar mais do que um minuto nos horários gratuitos eleitorais na televisão, como o Partido da Causa Operária, o PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado) e a Liga Bolchevique Internacionalista.
Cada vez que ganhavam uma votação, os grupos vencedores comemoravam como uma torcida comemora um gol. Como resposta, os perdedores criticavam o que consideravam manipulação cantando a música "Admirável Gado Novo", de Zé Ramalho, cujo refrão fala em "vida de gado, povo marcado, povo feliz".
Para compreender algumas discussões no movimento estudantil, ainda é preciso entender as divergências entre líderes históricos do comunismo da época da União Soviética, como Stálin, Lênin e Trotsky.
Nos arredores do ginásio, era possível presenciar diálogos como esse: "Você tem uma camisa do Lênin? ", pergunta um estudante. "Do Lênin, não. Ele era estalinista", retruca o vendedor de uma barraca. "O Lênin nunca foi estalinista. Ele era trotskista, mas Stálin deturpou o que ele falava", encerra o aluno.
"Morreu, morreu, morreu o estalinismo lá no leste europeu" e "PC do B só se resume a um partido sustentado pela UNE" eram os gritos mais comuns dos opositores da ala hegemônica.
A resposta dos seguidores do PC do B vinha com gritos como "oposição unificada é a direita disfarçada" ou "demagogia, demagogia".



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