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"Grau de heterossexualidade" veta policial
Aprovado em concurso da PF, delegado, que desbaratou esquadrão da morte, foi considerado inapto no teste psicotécnico
Escala mede a quantidade de energia que a pessoa desprende para o sexo, indicativo de predisposição para o trabalho e a fadiga
THIAGO REIS
DA AGÊNCIA FOLHA
Um delegado da Polícia Civil
do Espírito Santo, conhecido
por desbaratar um esquadrão
da morte que agia no Estado,
tenta ingressar na Polícia Federal há dez anos, sem sucesso.
Aprovado na primeira fase de
um concurso realizado em
1993, ele foi tido como inapto
por não atingir um "determinado grau de heterossexualidade"
no teste psicotécnico.
Em 1996, quando os candidatos foram nomeados, ele não foi
relacionado mesmo tendo obtido média final de 8,177 no curso
de formação e se classificado
em 90º lugar. Eram 200 vagas.
Francisco Vicente Badenes
Jr., que se declara heterossexual, entrou com dois recursos
-ambos negados. Em 2000,
entrou com uma ação ordinária
para fazer valer o resultado. Em
2002, um despacho do ministro Miguel Reale Jr. reconheceu que o teste não era válido.
Mas só em de maio o juiz substituto da 1ª Vara Federal de
Brasília, Marcelo Rebello Pinheiro, deferiu a liminar.
A Folha tentou contato com
Badenes. Com o paradeiro sob
sigilo, já que foi perseguido e
hoje faz parte do programa de
proteção a pessoas ameaçadas,
não foi achado. Por meio de
uma ex-advogada dele, a reportagem obteve uma resposta:
"Ele avisa que a liminar foi cassada, mas que a decisão ainda
não foi publicada". É a mais nova derrota jurídica.
O exame aplicado na PF, chamado de EPPS (Escala de preferência pessoal de Edwards,
na sigla em inglês), é considerado pelo Conselho Federal de
Psicologia "sem condições de
uso para avaliação psicológica".
Segundo o psicólogo Ricardo
Primi, o teste se baseia em frases, às quais o candidato diz se
concorda.
Para a PF, não se trata de discriminação, pois a escala de heterossexualidade não indica a
opção sexual. A PF diz que
mantém o argumento anexado
ao processo, de que a escala é
uma forma de mensurar a
quantidade de energia que o indivíduo desprende para o sexo
-um indicativo de sua predisposição para o trabalho, persistência, produtividade e resistência à fadiga e à frustração.
Entretanto, foi justamente
por um trabalho "extremamente árduo e corajoso, face à
magnitude da organização criminosa combatida [a Scuderie
Le Cocq]", nas palavras da AIP
(Associação Internacional de
Polícia), que ele foi indicado
para receber em setembro, na
Eslovênia, um prêmio.
O exame do grau de heterossexualidade não é mais aplicado no teste psicotécnico. Um
novo sistema de avaliação entrou em vigor em 2003.
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