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ANÁLISE
Barreiras de contenção usadas no Iguaçu são inadequadas por terem sido feitas para o mar; sensores evitariam derramamento
Petrobras falha no combate ao desastre
FERNANDO GABEIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Uma reedição do que
aconteceu na baía de Guanabara. Só que desta vez vazaram 4 milhões de litros de um óleo
cru, muito mais venenoso do que
o vazado na baía.
O mecanismo é idêntico: falha
humana, dutos velhos e ausência
de sensores eletrônicos que desliguem automaticamente quando
há uma alteração de pressão.
A Petrobras me acordou cedo
para comunicar o desastre. Há
muito boa vontade, mas pouca
eficiência. As barreiras de contenção no rio Iguaçu estão sendo furadas porque elas são feitas para
o mar. O rio Barigui foi atingido,
mas é um rio quase morto. O problema é o Iguaçu. A grande mancha vai se deslocar por áreas de
hidrelétricas, e o Brasil terá que
avisar a Argentina que está mandando esse recado venenoso.
O rio Iguaçu, pelo valor simbólico e econômico, passa a ser a
grande preocupação.
Até que ponto conseguiremos
conter a mancha e evitar que
áreas mais piscosas sejam envenenadas também?
É uma batalha que vai se dar
nos próximos dias. As águas correm numa velocidade de 4 km/h.
A mancha está correndo numa
velocidade de 800 m/h.
A ineficácia do trabalho da Petrobras não se prende apenas à
inadequação do material, como
no caso das barreiras. Há pouco
absorvente, e aguardam a chegada de 180 quilos que não darão
para nada.
Há dois problemas centrais nesse tipo de óleo que vazou: o primeiro é que ele contamina. O segundo é que ele é altamente combustível. A batalha também vai se
dar no sentido de preparar a população para esses dois tipos de
perigo.
Estamos trabalhando a todo
vapor. É o maior desastre em rio
num país onde não há material
adequado para combatê-lo.
Vai ser preciso jogar com a criatividade para inventar barreiras e
localizar pontos do rio onde o trabalho de contenção possa ser
mais eficaz.
Existem dois marcos no avanço
da mancha. O primeiro é União
da Vitória, onde começam as hidrelétricas. Espera-se que a mancha chegue por lá no domingo,
pois a velocidade do rio vai se ampliando a medida que ele avança.
O segundo marco mais estratégico e simbólico são as cataratas.
Qualquer acidente que repercuta
nas cataratas terá um desgaste
adicional de manchar o segundo
cartão postal do Brasil, um semestre depois do desastre na baía
da Guanabara.
Portanto, é uma luta difícil e
não há nenhuma garantia de vitória no momento. Vai depender
da capacidade de conjugar esforços de uma maneira rápida e inteligente. E por falar em inteligência, o que faltou realmente foi o
mesmo que faltou na baía de
Guanabara: um sistema de sensores que transcenda a vulnerabilidade das falhas humanas. Uma
velha história ainda sem solução
na produção de petróleo no país.
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