São Paulo, terça-feira, 18 de julho de 2000


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ANÁLISE
Barreiras de contenção usadas no Iguaçu são inadequadas por terem sido feitas para o mar; sensores evitariam derramamento
Petrobras falha no combate ao desastre

FERNANDO GABEIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Uma reedição do que aconteceu na baía de Guanabara. Só que desta vez vazaram 4 milhões de litros de um óleo cru, muito mais venenoso do que o vazado na baía.
O mecanismo é idêntico: falha humana, dutos velhos e ausência de sensores eletrônicos que desliguem automaticamente quando há uma alteração de pressão.
A Petrobras me acordou cedo para comunicar o desastre. Há muito boa vontade, mas pouca eficiência. As barreiras de contenção no rio Iguaçu estão sendo furadas porque elas são feitas para o mar. O rio Barigui foi atingido, mas é um rio quase morto. O problema é o Iguaçu. A grande mancha vai se deslocar por áreas de hidrelétricas, e o Brasil terá que avisar a Argentina que está mandando esse recado venenoso.
O rio Iguaçu, pelo valor simbólico e econômico, passa a ser a grande preocupação.
Até que ponto conseguiremos conter a mancha e evitar que áreas mais piscosas sejam envenenadas também?
É uma batalha que vai se dar nos próximos dias. As águas correm numa velocidade de 4 km/h. A mancha está correndo numa velocidade de 800 m/h.
A ineficácia do trabalho da Petrobras não se prende apenas à inadequação do material, como no caso das barreiras. Há pouco absorvente, e aguardam a chegada de 180 quilos que não darão para nada.
Há dois problemas centrais nesse tipo de óleo que vazou: o primeiro é que ele contamina. O segundo é que ele é altamente combustível. A batalha também vai se dar no sentido de preparar a população para esses dois tipos de perigo.
Estamos trabalhando a todo vapor. É o maior desastre em rio num país onde não há material adequado para combatê-lo.
Vai ser preciso jogar com a criatividade para inventar barreiras e localizar pontos do rio onde o trabalho de contenção possa ser mais eficaz.
Existem dois marcos no avanço da mancha. O primeiro é União da Vitória, onde começam as hidrelétricas. Espera-se que a mancha chegue por lá no domingo, pois a velocidade do rio vai se ampliando a medida que ele avança.
O segundo marco mais estratégico e simbólico são as cataratas. Qualquer acidente que repercuta nas cataratas terá um desgaste adicional de manchar o segundo cartão postal do Brasil, um semestre depois do desastre na baía da Guanabara.
Portanto, é uma luta difícil e não há nenhuma garantia de vitória no momento. Vai depender da capacidade de conjugar esforços de uma maneira rápida e inteligente. E por falar em inteligência, o que faltou realmente foi o mesmo que faltou na baía de Guanabara: um sistema de sensores que transcenda a vulnerabilidade das falhas humanas. Uma velha história ainda sem solução na produção de petróleo no país.


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