|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RETRATO DO BRASIL
Segundo a Fundação Oswaldo Cruz, 89% dos municípios erram no registro da mortalidade infantil
Estudo revela falha em taxa de bebês mortos
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
Apenas 10,7% dos municípios
brasileiros, onde vivem 47,8% da
população, apresentam estatísticas de mortalidade infantil com
padrões totalmente adequados.
Em 59,7% das cidades, habitadas por 40,1% dos brasileiros, o
dado é parcialmente adequada,
enquanto em 29,5% dos municípios, onde vivem 12,1% dos brasileiros, é totalmente inadequado.
As estatísticas oficiais indicam
que, a cada mil crianças nascidas
vivas, 29,6 morrem até completar
um ano de idade.
As conclusões estão em um estudo feito pela Fiocruz (Fundação
Oswaldo Cruz) a pedido do Ministério da Saúde. A pesquisa é de
autoria dos professores Célia
Szwarcwald, Maria do Carmo
Leal, Paulo Frias e Silvana Gama,
do Departamento de Informações em Saúde da fundação.
Para chegar às definições de
adequado, parcialmente adequado e totalmente inadequado, os
pesquisadores levaram em conta
cinco critérios, entre eles a variabilidade das taxas de mortalidade
de um ano para o outro.
Com isso, por exemplo, se o
coeficiente geral de mortalidade
de um município apresentou
num intervalo de três anos uma
variação anual superior a 10%, o
dado foi considerado crítico e
contava pontos negativos no cálculo do indicador de adequação.
Além de calcular a taxa do Brasil, os pesquisadores fizeram o
cálculo por Estado e grandes regiões. O estudo confirma que nos
Estados do Norte e do Nordeste é
maior a subnotificação de óbitos e
nascimentos nos registros oficiais
dos sistemas de saúde.
Ao analisar a situação Estado
por Estado, há dados que impressionam. No Piauí e na Paraíba, nenhum município apresentou informações que preenchiam os requisitos básicos para o cálculo de
um indicador confiável. No Maranhão, no Ceará, no Rio Grande do
Norte e em Tocantins, o percentual é inferior a 1%.
Para medir o grau de confiabilidade das estatísticas de mortalidade infantil dos sistemas de saúde, a Fio Cruz elaborou um índice
de adequação, que pode variar de
100, o melhor, a - 100, o pior.
Em todo o Brasil, o índice de
adequação foi de 55,8, sendo que
Sudeste (79,9), Sul (75,8) e Centro-Oeste (70,2) apresentaram os
melhores índices, enquanto o
Norte (12,9) e Nordeste (16,8), os
piores. Em três Estados do Nordeste, foi encontrado um índice
negativo: Maranhão (-27,7), Piauí
(-19,6) e Paraíba (-6,7).
Uma das maneiras de calcular a
taxa de mortalidade infantil é utilizar as informações dos sistemas
de saúde, coletadas em hospitais e
órgãos públicos, levando em conta os registros de óbito de menores de um ano e o registro de nascidos vivos naquele ano.
Nos Estados do Norte e do Nordeste, o cálculo por meio dessas
fontes é precaríssimo por razões
culturais e falhas na notificação.
Os pesquisadores da Fiocruz selecionaram 16 municípios das regiões Norte e Nordeste onde as informações eram precárias para
verificar, no local, o número de
óbitos de menores de um ano e
compará-lo com o dado oficial do
sistema de saúde.
"Mesmo a criança morrendo no
hospital, achamos municípios onde a informação daquele óbito
não havia sido passada para o sistema de informação de mortalidade", afirma Célia Szwarcwald.
Ela conta que os pesquisadores
encontraram situações muito comuns no Nordeste, como crianças que nasciam, não eram registradas, morriam antes de atingir
um ano de idade e eram enterradas no quintal das casas.
Ou seja, pelas estatísticas oficiais, essas crianças nunca existiram, pois não foram registradas em cartório. A morte também não era registrada, já que as crianças não foram atendidas em hospital nem enterradas em cemitério público.
Texto Anterior: Preso acusado de abusar de garota em vôo Próximo Texto: Cálculo foi baseado em cinco critérios Índice
|