São Paulo, quinta-feira, 18 de julho de 2002

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Crianças são enterradas em quintais

DA SUCURSAL DO RIO

A realidade encontrada nas 16 cidades visitadas surpreendeu os pesquisadores da Fiocruz. Em alguns municípios, o hábito de registrar o nascimento ou a morte de um bebê é tão incomum que incomoda os moradores, acostumados a enterrar nos quintais de casa as crianças mortas.
"Eles enterram as crianças no quintal e acham normal. Muitos são tratados como anjinhos, e os corpos ficam em casa, às vezes com fotografias do enterro expostas", conta Célia Szwarcwald.
Os pesquisadores foram às cidades para fazer o que classificaram como busca ativa dos óbitos, ou seja, a visita dos técnicos em cada município para verificar, por conta própria, quantos menores de um ano morreram na cidade e comparar o número com o indicador oficial do sistema de saúde.
Em alguns municípios, como em Nova Olinda do Norte (AM), apenas uma das 19 mortes verificadas pelos pesquisadores havia entrado no registro oficial.
Na média dessas cidades, a proporção de óbitos não registrados oficialmente foi de 66%, ou seja, mais da metade das mortes não eram notificadas oficialmente.
"Em algumas casas, nem as mães se lembravam ao certo a idade com que o filho morreu", afirma Maria do Carmo Leal.
Mesmo as mortes de menores de um ano que aconteciam em hospitais públicos eram subnotificadas nesses municípios. Mais da metade das mortes cuja fonte de informação dos pesquisadores foi o hospital não estão incluídas nas estatísticas oficiais.



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